Quermesse de 1884:



PNA inv. 2848 / Enrique Casanova
Em Maio de 1884 (17 a 19) realizou-se, na Real Tapada da Ajuda, por iniciativa da Rainha Maria Pia, uma  quermesse, cujos fundos reverteram a favor da associação de creches, criada em 1875.

A festa, de acordo com as descrições da  revista Occidente, foi "...extraordinaria, brilhantissima, unica no nosso paiz, e alcançou um resultado que excedeu toda a expectativa."  

Do mesmo evento tem a Biblioteca da Ajuda, na colecção de fotografia, o álbum  intitulado "Kermesse" com um conjunto de 19 imagens, efectuadas pelo fotógrafo Francisco Rocchini, que ilustram o evento.



O álbum com a cota 1234-III- 20 (reg. 5577-5595) está acessível através do Matrizpix [aqui]





Barraca da Rainha

Para saber mais:

 Occidente: revista illustrada de Portugal e do Extrangeiro, ano 1884,  n.º 195 [aqui] e n.º 196 [aqui]

As quermesses como uma forma específica de sociabilidade no séc. XIX. O caso da "Quermesse da Tapada da Ajuda" em 1884 / Irene Vaquinhas [aqui]

Francisco Rocchini – contributo biográfico / Paulo Martins Oliveira [aqui]



Missão de Mariano de Carvalho à Província de Moçambique

Mariano Cirilo de Carvalho, mais conhecido como Mariano de carvalho, nasceu a 25 de Junho de 1836, em Alenquer. Farmacêutico, profissão que exerceu durante um ano, matemático, professor, de Astronomia e Geodesia  na Escola Politécnica de Lisboa, jornalista e politico. Criou e dirigiu, com Andrade Corvo, Observatório Astronómico. Em 1890 foi encarregue, por D. Carlos, de viajar para Moçambique. Parte, no vapor Malange, em Junho de 1890 regressando em Dezembro do mesmo ano.

Da viagem em questão resultou  um álbum, em caixa,
de fotografias cujo objetivo foi "retratar", o mais detalhado possível, o estado da colónia em questão. As fotografias, num total de 115, mostram as paisagens, modo de vida, hábitos e etnias dos habitantes de Moçambique em especial de Lourenço Marques, actual Maputo, Quelimane, Nacala, Prazo Mahindo, da baías do Mocambo e das ilhas de Chiloane e Ibo.

BA. 233-IX

O fotógrafo da expedição foi
Manuel Joaquim Romão Pereira natural de São Bartolomeu de Messines, nasce a 1 de Junho e  morre em Agosto de 1894.

Viveu alguns anos em Loureço Marques, onde tinha o seu atelier de fotografia "Atelier Portuguez de Photographia", localmente conhecida como a "casa do photographo Pereira."




"Provincia de Moçambique. Choca, um grupo"
         

As restantes fotografias estão acessíveis através do Matrizpix [aqui]




...e a terminar a conversa sobre manuscritos, lembremos que:

os códices:

são vestígios materiais de uma época histórica determinada e, por isso também, ‘túneis do tempo’;

são fonte primária para a investigação histórica;

são fonte inesgotável de ideias para inúmeras profissões atuais e projetos de investigação: as decorações no desenho de jóias, na publicidade, na ilustração; reconstituição dos ambientes medievais pelas imagens; reconstituição do universo mental pelas técnicas utilizadas e pelos conteúdos; história da música; história do livro; literatura…

são, enfim, antepassados do livro que temos na mão e inesgotável fonte de conversas cruzadas.


Até breve, na sala de leitura da BA. 

Até lá, boas leituras!


… e a história continua...

… crónicas de reis e reinados...


Cronica de D. Sancho II. BA 47-XIII-22 (fl. 1 e col.)

...livros de Medicina ...



Régime du corps/Aldobrandino de Siena. Velino. Francês. BA 52-XIII-26 (séc. XIV)

Digitalização [aqui]


Physionomia / Rolando de Lisboa. Pergam. Latim

BA 52-XIII-18 (Séc. XV). Ilum. pelo Mestre de Bedford (1401-1450)

Digitalização [aqui]





… e a história continua...

.. Livro Religioso

O livro (religioso) é um instrumento de salvação, quer pela leitura, quer pela feitura. Lembremos algumas ‘invenções medievais’ na escrita:

- margens e páginas em branco;

- pontuação e maiúsculas;

- índices, sumários e resumos;

- obras em vernáculo, destronando o monopólio do latim;

- multiplicação dos géneros: textos religiosos e doutrinais – que eram também académicos e didáticos nos cursos de Teologia e Artes Liberais-, genealogias e obras jurídicas, poesia (cantigas), romances e crónicas, normalmente de monarcas ou grandes chefes militares;

Desenvolvimento de uma ‘indústria do livro’ que é a marca das sociedades modernas.



Exemplos de manuscritos medievais. Atente-se na:

letra de copista, profissão nascente que passou do convento para a Universidade; decoração mais exuberante e complexa devida ao progresso das técnicas, novos materiais que são fruto e motor do incremento económico que fez nascer a cidade.


Breviário. França (Univ.). Séc. XV. Velino. BA 52-XII-39











Bíblia. Latim. Séc. XII (ca). BA 52-XIV-14, fl. 1

Bíblia espanhola: língua vernacular (espanhol) + hebreu acrescentado (revisor/ copista de hebreu); capitular historiada; papel; ilustração do episódio da abertura do mar por Moisés. BA 52-XIII-1 (séc. XV)

DIA MUNDIAL DO LIVRO 2020… a história continua na Idade Média

Que livros se liam – e, por isso, se escreviam – na Idade Média?

Os livros medievais eram fruto de um trabalho artesanal, de manufactura e, muitas vezes, uma obra colectiva.

A produção de livros destinava-se em primeiro lugar ao recheio das bibliotecas e por isso apareceu associada aos conventos: monges copistas, artistas e encadernadores


Actualmente, não se distingue já o escritório medieval pela produção colectiva simultânea, isto é, bancadas de copistas em local predeterminado, mas sim uma execução individual – colectiva mas não simultânea – nos locais privados de vida dos monges (cubicula) e que estarão na origem das ‘viagens’ dos manuscritos inter-conventos que se especializavam em alguma área da produção, n
omeadamente, nas decorações (os artistas). Temos informação de as bibliotecas conventuais medievais manterem os seus livros com correntes.

Abertura, a partir do séc. XII, de scriptoria nas Universidades europeias. A Univ. de Paris é um exemplo maior de produção de livros muitos dos quais sobrevivem em bibliotecas públicas por toda a Europa.


Outros ainda, associados a cortes palacianas ou casas senhoriais, como é o caso da corte de Afonso X, de Castela (o Rei Sábio) ou da de D. Dinis.




DIA MUNDIAL DO LIVRO 2020: ...do manuscrito ao impresso...


É na passagem para a Idade Moderna que o objeto livro se populariza e sofre as maiores transformações: dos blocos xilográficos de origem oriental para a imprensa de tipos móveis, o que acontece com Johannes Gutenberg c. 1450.

O primeiro livro impresso neste novo modelo foi uma Bíblia em latim. 


Em Portugal as primeiras impressões são em 1487, em Faro, um Pentateuco, em caracteres hebraicos, em 1488, o “Sacramental”, primeira obra em português, impressa em Chaves e em 1489 o “Tratado de Confissões”. Só na década de 90 há impressão em Lx e Porto.



A estes primeiros exemplares impressos, da altura do berço da imprensa, chamamos ‘incunábulos’.


DIA MUNDIAL DO LIVRO 2020:


BA 52-XIII-2, fl. 141
De um modo geral, os livros podem 

distinguir-se em MANUSCRITOS e IMPRESSOS.

Primeiro em papiro, com 6 a 7m, enrolado em cilindros: o rolo. O papiro foi progressivamente substituído pela pele de animais = pergaminho e velino, por ser mais resistente e este por papel;

O volumen (rolo) é substituído pelo codex (o códice) que corresponde à compilação de folhas, em vez de rolos, e sintetiza o trabalho de produção do manuscrito.

A esta distinção podemos ainda associar outros traços de materialidade como terem ou não ilustrações, serem um exemplar ou uma colecção, poderem ser lidos por si ou através de uma plataforma electrónica, isto é, através da sua imagem digitalizada, etc, etc…

DIA MUNDIAL DO LIVRO 2020: LIVRO & LEITURA











Lembremos:
Ler é apropriar-nos de uma história, uma vida, um tempo que não são os nossos. 

A leitura é sempre plural – “leituras” – e exerce-se relativamente a um conteúdo + uma forma física.

A leitura é também sempre uma conversa. Entre um autor/narrador e um leitor, através de um meio físico. 

O ato da leitura está ainda hoje intimamente associado a um médio especial: o livro que,como o conhecemos hoje, é fruto de uma longa evolução material e tecnológica.

DIA MUNDIAL DO LIVRO 2020

Sem ELES, os livros, NÓS, as bibliotecas não existiríamos. Pelo menos nesta forma em que as conhecemos.

E sem VÓS, leitores, deixaria de haver sentido neste universo de letras, palavras e frases...

E por esta "graça do mundo", tal como o conhecemos, COMEMORAMOS!

Sendo comemoração, este DIA - que tem aposto o adjectivo MUNDIAL - é memória e reencontro com o LIVRO!

E, sendo festa, tem que ser partilhado, convivencial e dialogante!

Embora de porta física fechada, a "Bibliotheca da Ajuda" preparou(-se) para estar na festa com todos, sem limites de idade e deixa(-se) o presente através desta 'janela aberta'.

Quisemos "um bolo" que chegasse a/para todos: os nossos leitores diários ou ocasionais, os nossos visitantes físicos e digitais, os que ainda não podem ser nossos leitores e aqueles que já não o podem ser e também... você, que 'passou' por acaso pela janela aberta!

Antes de 'pormos os slides a rolar', neste atípico dia 23 de Abril de 2020, evoquemos os livros com palavras universais singularmente escritas em português:


Livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas.

Mario Quintana
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Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

(...)

Fernando Pessoa
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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

(...)

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões

Sabia que...


Real Colégio dos Nobres.
O “Cancioneiro da Ajuda” é um códice único no mundo que recebeu este nome por estar à guarda da Biblioteca da Ajuda desde o início do séc. XIX? 

A sua divulgação pública foi obra do cônsul inglês em Portugal, Lord Charles Stuart de Rothesay, que o detectou entre os muitos ‘cartapácios’ que integravam a Livraria do Colégio dos Nobres, a qual tinha sido ‘herdeira’ de parte do espólio das livrarias jesuítas confiscadas após 1759, o que explica o outro nome pelo qual foi conhecido: “Cancioneiro do Colégio dos Nobres”.

Com mais de 700 anos é um repositório de poesia galaico-portuguesa de amor, onde figuram 310 canções de 38 autores. Incompleto na forma e conteúdo, as suas “várias vidas” materializam-se nos aspectos gráfico, iconográfico, nas anotações marginais, na encadernação e na caixa que o guarda actualmente. Objecto de reorganizações internas que espelham o progresso do conhecimento sobre ele, as cores que hoje vemos nas iluminuras nunca necessitaram de ser restauradas.




Para saber mais sobre os Cancioneiros [Aqui]

Destaques do Acervo:

Contemporâneo de Gil Vicente e Sá de Miranda, Garcia de Resende nasce em Évora, por volta de 1470, no seio de uma família nobre. Homem culto e multifacetado revelou-se nas diferentes artes de expressão escrita tendo sido autor de diversas composições em verso, prosa, desenho e mesmo música.

Foi responsável pela primeira colectânea poética impressa em portugal, o Cancioneiro Geral, que reuniu cerca de 1000 composições de poetas portugueses (289) e castelhanos (29) abrangendo, e não deixando cair no esquecimento, a produção literária das cortes de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel.




A Biblioteca da Ajuda tem no seu acervo, tal como a Biblioteca Nacional de Portugal, a 1.ª edição do Cancioneiro Geral, com a cota 50-XII-41.
Exemplar da BNP [aqui]




Do mesmo autor possui a Biblioteca da Ajuda, tal como a BNP, a obra, impressa postumamente por André de Burgos em 1554, Liuro das obras de Garcia de Reesende (...), com a cota 50-XII-27.

Exemplar da BNP [aqui]

Explore a Biblioteca da Ajuda

Com o Google Arts & Culture  [aqui]


Biblioteca da Ajuda através da SIC

A Biblioteca da Ajuda tem um importante acervo patrimonial, superior a 150 mil exemplares, que inclui obras como o "Cancioneiro da Ajuda", o "Livro de Traças de Carpintaria", de Manuel Fernandes, 1616, ou a obra de Francisco de Holanda "Da fabrica que falece a cidade de Lisboa", entre muitas outras...


Descubra mais através da reportagem efectuada pela Sicnoticias:

"Biblioteca da Ajuda é uma das mais antigas de Portugal...." [aqui] 

Biblioteca da Ajuda através da RTP Ensina

Embora nada supere as visitas guiadas que a Biblioteca da Ajuda faz, por marcação, neste tempo de recolhimento sugerimos a visita que a RTP Ensina nos proporciona....


A Real Biblioteca da Ajuda
"Livros que pertenceram a Reis, atravessaram um oceano ou sobreviveram ao terramoto de Lisboa. Muito tem para contar esta Real Biblioteca (...) aqui


Adeus, Margarida

Há dias em que o peso da vida se manifesta em toda a sua dor e que a luz da esperança teima em esconder-se…HOJE é um desses dias! A família da Biblioteca da Ajuda perdeu um dos seus membros! Tragicamente. Dolorosamente. Um destino percorrido em tão pouco tempo!


Partilhamos hoje a notícia triste da partida da Margarida para outros campos floridos, onde já não há dor, nem consciência! Estamos com o marido e os filhos junto do nosso coração, na distância das nossas casas, em silêncio, a despedirmo-nos “até já”!

Não queríamos que nenhum daqueles que ela tocou com a sua palavra amiga, o seu empenhamento e a sua resistência interior ficasse sem saber que a sua hora chegou e que não mais a verá fora dos olhos do seu coração e memória!

É com lágrimas nos olhos e a esperança nas vidas que a prolongam que dizemos juntos “boa viagem, Margarida!”

Destaques do Acervo:

A Biblioteca da Ajuda tem, na sua colecção de fotografias, um conjunto de  8 imagens de vários modelos do fabricante de automóveis Benz & Cie. (empresa que antecedeu a agora Mercedes-Benz), representado em Portugal por José da Silva Monteiro. 

Em 1908, José da Silva Monteiro, empresário do Porto, abre um stand de vendas 
na rua das Flores 133-135 e uma garagem, na Rua da Liberdade.

Do conjunto de imagens, abaixo, destacam-se vários modelos Phaeton [28 HP, 40 HP, 50 HP..] que, de acordo com o site da Mercedez Benz [aqui], terá sido o primeiro modelo a entrar em Portugal.

As imagens, com a cota BA. 232- I, reg. 997 (A-I) estão acessíveis, com a respectiva descrição física e técnica , através do matrizpix [aqui]. 







Para saber mais:

Museu Carl Benz [aqui].

A Implantação do Automóvel em Portugal (1895-1910) / José Carlos Barros Rodrigues [aqui]



Livros Raros


A Biblioteca da Ajuda cujo espólio foi sendo enriquecido com a integração de algumas livrarias particulares e de ordens religiosas entretanto extintas como as livrarias da Companhia de Jesus (Casa Professa de São Roque e Colégio Santo Antão) tem no seu acervo a obra, rara, de Manuel Bocarro.


Tratado dos cometas que appareceram em Novembro passado de 1618 / Composto pello Licenceado Manoel Bocarro Frances, medico, & astrologo, natural desta cidade de Lisboa. - Em Lisboa : por Pedro Craesbeeck, 1619. - 20 f. : il. ; 4º (20 cm).

BA. 50-X-47. - Pert. ms.: "Da livr.ª publica de S. Roque"

Notas: Brasão de D. Fernão Martins Mascarenhas [Inquisidor Geral] a quem é dedicada a obra


Manuel Bocarro Francês [Jacob Rosales], médico, astrónomo e matemático nasce em Lisboa em 1588 (cf. BA. 50-V-36, fl. 146) e morre em 1662, em Florença. Inicia os seus estudos no colégio Jesuíta de S. Roque prosseguindo os mesmos primeiro em Montpellier, de onde lhe virá o toponímico francês, seguindo depois para Alcalá de Henares e por fim Coimbra. Em 1618, de novo em Lisboa, escreve sobre os cometas que foram avistados, nesse ano. Figura polémica, pela sua ligação ao movimento sebastianista e por ser opositor das teorias Aristotélicas.

A Biblioteca Nacional de Portugal publicou, em 2009, um fac-símile da obra [aqui] acompanhado de um estudo de Henrique leitão [aqui]

Mais:

Manuel Bocarro Francês alias Jacob Rosales: Percurso de Vida, Legado Escrito e Ars Magna / Sandra Silva [aqui]

O físico Imanuel Bocarro Rosales: vestígios da sua presença em Livorno / Sandra Silva [aqui]. Inclui a reprodução dos fls 147-147v. do manuscrito autógrafo de Bocarro redigido em Livorno no ano de 1658 (BA, 50-V-36)