Animais, entre o real e o imaginário.
A presente exposição pretende fazer um percurso pela representação dos animais nos livros entre o séc. XIII e o séc. XIX. Os exemplares expostos pertencem ao acervo da Biblioteca da Ajuda e ilustram esta evolução.
As grandes culturas da Antiguidade –os sumérios, egípcios, gregos e romanos- contam com uma mitologia repleta de animais, com atributos sobrenaturais, alguns reais, muitos imaginários, que irão sendo reinterpretados ao longo do tempo. Primeiro, pelo olhar cristão do período medieval, depois, pelos valores do humanismo da época moderna, e, finalmente, pelo pensamento racionalista e positivista dos séculos XVIII e XIX.
A par da visão mais fantástica da natureza assistiu-se ao longo dos tempos a uma tentativa de aproximação mais científica da mesma. Grande parte dos textos clássicos que tinham sido conservados nos mosteiros são recuperados pelo Renascimento e o interesse pelo estudo directo da natureza é incrementado com a descoberta de novos territórios, nomeadamente pelos navegadores portugueses do séc. XVI.
A sistematização das primeiras enciclopédias ilustradas aponta para alguns dos princípios científicos onde são representados animais dos novos continentes muitos deles, fruto das descrições dos viajantes, incorporando da mesma forma animais reais e imaginários. A convivência entre o real e o imaginário diminui à medida que aumenta o rigor do estudo científico, deixando cada vez menos espaço livre para a fantasia e a imaginação que terão de encontrar o seu espaço noutros campos do saber.
Sala dos manuscritos:
(da esquerda para direita) Nas duas primeiras mesas encontramos animais genuinamente fantásticos e habitualmente associados ao mal- o dragão, tão utilizado na arte e na literatura e o galo monstruoso ou basílico, associado ao poder real pela sua capacidade de matar com o olhar- Também, os animais marinhos, recorrentemente utilizados em alegorias e na cartografia, como símbolo dos perigos que o mar escondia, como no mapa da lendária Taprobana [segunda mesa]. Estes animais, ilustrados nas primeiras enciclopédias, se bem que não de maneira completamente científica, aproximam-se mais da realidade.
Na terceira mesa encontramos os animais quadrúpedes (a divisão actual data do séc. XVIII). Aqui a mistura entre realidade e fantasia mantêm-se. Grifos em pé de igualdade com hipopótamos, lobos com características fantásticas... Nas iluminuras dos manuscritos medievais, os animais fantásticos são, geralmente, os protagonistas, como nos dois exemplos desta mesa.
Finalmente, a última mesa exemplifica a evolução da representação dos animais. No caso apresentado, os desenhos de aves, dos séculos XV, XVII e XIX respectivamente, ilustram o aumento da preocupação pelo pormenor e rigor científico que se verifica ao longo dos tempos.