Recordamos Hoje: Anatole Célestin Calmels (1822-1906)

Calmels nasce em França (Paris), em 1822 e morre em Portugal (Lisboa) aos 84 anos, estando sepultado, em Lisboa, no Jazigo dos Duques de Palmela.

A chegada a Portugal, onde viveu 48 anos, terá resultado de um convite de D. Pedro V, segundo o artigo que o Ocidente, (n.º 982, de 10/4/1906) lhe dedica por ocasião da morte, "... Foi D. Pedro V que o convidou a vir para Portugal, tinha então Calmels 36 annos (...) ". A data, 1858, coincide com o que o próprio escreve e que foi publicado num artigo, de Maria Amália Vaz de Carvalho, no Diário Ilustrado (n. 33 de 10/4/1902) por ocasião de uma homenagem feita à Duquesa de Palmela,  Maria Luísa de Sousa Holstein (1841-1909), que foi sua aluna. Nesse artigo Calmels escreve "(...) A illustre mãe da Duqueza honrou-me com o seu encargo de dar as primeiras lições a sua filha então solteira, com desassete annos de ferteis promessas d'espirito e de coração..".

Em Portugal deixou a obra elencada aqui e na Biblioteca da Ajuda os documentos abaixo discriminados: 

1859 Dez. 29, Lisbonne
Carta de Antole Calmels, estatuário, para D. Pedro V enviando-lhe as novas propostas que apresentou ao Ministro das Obras Públicas para o projeto do monumento a D. Pedro IV.
Inclui:
Propostas do monumento comemorativo a erigir à memória de D. Pedro IV. 1485
BA – 54-XI-44, nº 57 e 57a (Em Francês)


1860 Jan. 06, Lisbonne
Carta de Anatole Calmels, Estatuário, para D. Pedro V, enviando-lhe as condições do
contrato passado entre o Governo brasileiro e L[ouis] Rochet, Estatuário, para o
monumento a D. Pedro IV, segundo consta da “Revista Popular do Rio de Janeiro”, a fim
de se ver a diferença entre o que ele [Calmels] pediu e o que o Governo brasileiro
concedeu. Tem junto os orçamentos do monumento a D. Pedro I do Brasil, apresentado
por L. Rochet no Rio de Janeiro, e o do monumento a D. Pedro IV por Anatole Calmels
em Portugal.

BA – 54-X-18, nº 346, 346a (ilustrado)  (Em Francês) [ver Col. de Fotografia, 233-VII, reg. 1485]


BA – 54-X-18, nº 346 a (il.) 



Estátua de D. Pedro IV no Porto:

Estátua equestre de D. Pedro IV, o Libertador, na Praça da Liberdade no Porto feito em 1862 por A . Celestim Calmels / Fot. de TISSERON, 1862 

Avulso, prova em papel colada sobre cartão, 275 x 394 mm. (suporte 473 x 622 mm. ), 1 fot. Faz parte da pasta"Tisseron (IV)".

A fotografia apresenta carimbo do fotógrafo no verso:"Tisseron - Rua do Loreto, 61 - Lisboa". [ Ver B. A . 54-X-18, nº 346 e 346a: maquetas de um monumento a D. Pedro IV; propostas feitas por A . Calmels e L. Rochet, estatuários, para os monumentos em Portugal e no Rio de Janeiro, respectivamente. ] 233-VII, reg. 1485 

Matrizpix :aqui e aqui 



Anatole Calmels ganha o concurso, aberto a 26 de Agosto de 1862 pela Câmara Municipal do Porto, ficando responsável pela escultura e pedestal da estátua equestre de D. Pedro IV, para comemorar os 30 anos do desembarque no Mindelo... [ver mais]

1863 Jan. 06, Lisbonne
Carta de Anatole Calmels para D. Luís com o pedido para ordenar a nomeação de uma comissão especial para regular as condições definitivas , a fim de poder dar inicio ao trabalho de execução do Monumento de D. Pedro IV, no Porto.
BA – 54-XI-17, nº 36  (Em Francês)


1868 Nov. 8 , Lisbonne
Carta de Anatole Calmels para D. Luís a pedir um adiantamento à conta dos seus trabalhos para poder pagar aos trabalhadores e manter abertos os ateliers.
BA – 54-XI-4, nº 133 (Em Francês)

Camões e a BA – "Os Lusíadas" comentados

Em Março de 1572, o impressor António Gonçalves trazia à luz Os Lusíadas de Luís de Camões. Publicado com o alvará de D. Sebastião I (1554-1578), que concedia ao autor a totalidade dos direitos sobre a obra (licença) e que, por Privilégio, se estenderia em exclusividade por 10 anos. É a Camões que se concede licença para "fazer imprimir em Lisboa" a obra poética que narra os feitos dos portugueses nas "partes da Índia", em linguagem, isto é, na língua vulgar e regida pelas regras da poesia clássica, como ditava a modernidade renascentista. A epopeia marítima dos portugueses, algumas décadas depois do seu início, é elevada a matéria épica e desígnio da grandeza nacional. Lembremos que a imprensa como a conhecemos – tipos móveis – estava na sua primeira infância e todos estes aspetos indiciam a singularidade desta obra no universo sócio-cultural(1)em que apareceu.



Alvará da ed. de 1572 de Os Lusíadas. Exemplar da BNPortugal acessível online Aqui




A Biblioteca da Ajuda aparece, em catálogos antigos e em referências bibliográficas de textos académicos de finais do séc. XIX / início do séc. XX, como guardiã de 1 exemplar dessa 1ª edição(2)que, atualmente, não integra a coleção. Esse exemplar, pertença de D. Manuel II, foi restituído ao seu proprietário em 1930 e faz parte, hoje, da biblioteca da Fundação Casa de Bragança, dentro do fundo "Camoniana" desta instituição.

Auto de Arrolamento 490 (ANTT)

Biblioteca U'''

Sala B 6791-6829 4568-4575


1928, 17 de Janeiro

"Espécies raras, existentes na Biblioteca da Ajuda julgadas propriedade particular do Senhor Dom Manuel de Bragança:..." Assina a entrega Jordão de Freitas (Diretor da BA) e a recepção João Sequeira, representante da Administração da Casa de Bragança.  fls. 1-3
                                                                        


  ←  (fl. 2)                                         (fl. 3)  →

                               
                                                               

Na Biblioteca da Ajuda é a 1ª edição espanhola comentada de Os Lusíadas que detém a centralidade da (sub-)coleção "Camoniana" pela riqueza que lhe advém de manter junto o manuscrito que a originou: 



Lusíadas / de Luís de Camoens Príncipe de los Poetas de España. Comentados por Manuel de Faria i Sousa Cavallero del habito de Christo, i de la Casa Real. Año M. DC XXXVI [1626]
Cod. Ms., papel, 2 cols.  4.º, 806 fls. 2 cols; Original, autógrafo
BA. 46-VIII-39












Luis de Camoens principe de los poetas de España,:
[primero - quarto tomo]. En Madrid : por Ivan Sanches, 1639 .
BA. 50-XIV-18
Registo Bibliográfico Aqui
versão digital (BNP) Aqui


Considerado um dos comentários mais abrangente da epopeia de Camões este resultado não será estranho ao objectivo de Manuel de Faria e Sousa de divulgar em língua espanhola, “resgatando-o da sua obscuridade de herói” o poeta lusitano que ombreava, na sua opinião abalizada, com os maiores clássicos gregos e latinos, nomeadamente Homero e Virgílio. Os comentários alargados e extensíveis a todo o poema, fizeram desta obra uma referência na tradição exegética da obra de Camões.

Outros comentários da obra magna camoniana e sobre o autor, deixaram marcas na tradição bibliográfica e integram a coleção da BA em espaços distintos e concordantes com a sua natureza física. 

Em versão manuscrita

Os Lusíadas comentados por D. Marcos de S. Lourenço, 1633


Os Lusíadas de Luis de Camões princepe dos poetas heroicos / comentados por o P. D. Marcos de S. Lo[urenç]º cónego regular da Congregação de Sancta Cruz de Coimbra
Autógrafo, ms. sobre papel; - In 2º (31 cm); 353 fls.
BA. 46-VIII-40






V. Tb.:

Edição crítica do manuscrito 46-VIII-40 da Biblioteca da Ajuda, comentado por D. Marcos de S. Lourenço: BA. 262-VI-34




Na coleção de impressos antigos:




OS LUSÍADAS comentados por Manuel Correia, 1613 (BA. 50-X-40)
Registo bibliográfico
: Aqui















Os Lusíadas comentados por João Franco Barreto, 1669 (BA. 61-III-18, n.º 1)
Registo bibliográfico: Aqui










FG@BA 

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(1) Afirmação verdadeira também para a materialidade e evolução tecnológica de que a questão da existência de 2 edições de 1572, com as representações do pelicano divergentes e variações em alguns versos além das diferenças imediatamente visíveis no tamanho dos tipos utilizados.

(2) Cf., por ex., Os Lusíadas, p. III/IV, da ed. de 1817, do Morgado de Mateus "Sei porém que / o exemplar de 1572, existente na Bibliotheca Real de Lisboa, he da edição diferente dos meus exemplares, … ."