Ramalho Ortigão (Porto, 1836 - Lisboa, 1915); Director da Biblioteca da Ajuda (1895 -1911)



Dando sequência ao prometido, em texto datado de 5 do corrente mês e dedicado a Ramalho Ortigão, eis uma transcrição de carta dirigida a D. Manuel II, à qual anexa relatório pormenorizado sobre as actividades da sua exemplar gerência da Biblioteca da Ajuda. 

A disponibilizar em linha durante os próximos dias.

2 fls. ­ Ms. s. papel carta tarjado com cercadura a negro e com timbre da ‘‘Real Bibliotheca da Ajuda’’ com as armas reais.
Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, maço 44 - n.848 
 
[f.1r.] [timbre da Real Bibliotheca da Ajuda com as armas reais]
 
25 de março 1908
Meu Senhor
Tenho a honra de enviar a Vossa Magestade o talvez já retardado relatorio da minha gerencia na livraria da Ajuda como bibliothecario do meu saudoso e chorado amo El Rei o Senhor D. Carlos, cuja cabeça quis Deus assignalar à imortalidade pela aureola do martírio. Só depois da leitura d'essa informação, convenientemente esclarecida e ratificada, poderá Vossa Magestade ajuizar do destino que durante - seu reinado mais // [f.1v.] convenha dar à direcção da Real Bibliotheca. Desde já reverentemente me inclino perante qualquer resolução que Vossa Magestade haja de tomar sobre tal assumpto.
Conjuntamente transmitto a Vossa Magestade duas das cartas de condolencia que o nosso lucto nacional inspirou a alguns dos meus amigos. Uma é de Madame Iturbe, senhora de grande prestigio mundano e artistico, que ha poucos annos visitou Lisboa e foi recebida no Paço como esposa do então Ministro do Mexico em Madrid D. Manoel Iturbe. A outra é de Camille Tulpinck, director da importante publicação Les anciens arts de Flandres, da qual Vossa Magestade encontrará os magni//ficos [f.2r.] fasciculos até hoje publicados na livraria particular de El-Rei o Senhor D. Carlos, o qual se tinha inscrito entre os Altos protectores, dos quaes vem exarada a relação no verso da capa de cada caderno da referida obra. Eu mesmo sou do Comité de patronage e bem assim colaborador de Anciens Arts de Flandres, onde tanta coisa ha que fazer conhecer da antiga arte em Portugal. O artigo a que a carta de Tulpinck se refere, e que ainda lhe não mandei apesar de o ter escrito, versa sobre os quadros de Gerard David no archiepiscopado d’ Evora, os quaes fiz para esse fim reproduzir pela photografia.
Rogo a Vossa Magestade que se digne a fazer-me saber se deseja, como Tulpinck // [f.2v.] tão vivamente solicita, continuar a assignar a obra interessantissima de que se trata e a subscrever-se na lista puramente honorífica des Hauts protecteurs.
Beija a mão de Vossa Magestade o seu muito respeitoso e dedicadissimo creado.
[assin.] Ramalho Ortigão
(...)

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