Ramalho Ortigão (Porto, 1836 - Lisboa, 1915)




  A Biblioteca da Ajuda associa-se, com gosto e entusiasmo, ao Centro Nacional de Cultura na celebração de “O Dia de Ramalho Ortigão”, a decorrer no dia 8 deste mês, no Centro Cultural de Belém — Sala Almada Negreiros.




 Destacado membro da Geração de 70, Ramalho “tinha de ser fatalmente escritor”, como disse, após ler As Viagens na minha Terra”, obra que o cativou.

Foi professor de Eça de Queirós, então estudante no colégio de seu pai, o Colégio da Lapa, onde leccionou francês. Com este viria a partilhar, mais tarde, parte importante e profícua da sua actividade de homem de letras.
Estudou em Coimbra, sem que tenha terminado o curso de Direito.
Colaborou com vários periódicos e foi redactor de Jornal do Porto, tendo aí publicado o Literatura hoje, folheto de intervenção na Questão Coimbrã.

«O único inimigo comum para os últimos dos românticos no jornalismo portuense era a estupidez humana, representada pelo honesto burguês da Rua das Flores e da Rua dos Ingleses, e era o espírito imobilizante de rotina, simbolizado no carroção veículo de família puxado a bois [...].» (As Farpas, t. I.).

Foi amigo de Antero, após ultrapassar derrota em duelo desafiado por este, dadas discordâncias ideológicas entretanto dissipadas; Ramalho, relutante de início, desenvolveu simpatia pelo ideário de Comte e o de Proudhon.

Viajante, cosmopolita, amante da vida, figura de fino humor, o escritor foi cimentando uma predilecção pela cultura tradicional portuguesa, visando sempre cultivar as populações, pendor pedagógico que o engrandeceu.

Em 1867 fixa residência em Lisboa e exerce como oficial da secretaria da Academia de Ciências; integra o grupo dos Vencidos da Vida e em 1895 assume funções na Biblioteca da Ajuda, tendo marcado decisiva e positivamente o seu funcionamento, também por ter introduzido uma nova metodologia de catalogação, ainda hoje em prática nesta biblioteca.
Bibliotecário dedicado e disciplinado, mantinha o hábito diário de registar, por escrito, factos (visitas de ilustres, por exemplo) e procedimentos inerentes a correcta organização e eficiente gestão desta casa do Saber.

Nos seus escritos, no fim da vida e já após a instauração da República, Ramalho expressou o seu desencanto com o novo regime político.

«Eu sou de uma idade transitória, vim obscuramente num período de transformação, com uma ala de sapadores, e pertenço à pequena companhia antipática dos bota - abaixo.» (As Farpas, t. I)

BIBLIOGRAFIA
(primeiras edições)

Em Paris, 1868
O mistério da estrada de Sintra (em colaboração com Eça de Queirós), 1870
As farpas: chronica mensal da politica das letras e dos costumes  (em colaboração com Eça de Queirós), 1871 
Banhos de caldas e águas minerais, 1875
As praias de Portugal: guia do banhista e do viajante, 1876
Notas de Viagem, 1878
Pela Terra Alheia, 1878
Theophilo Braga, 1879
A Holanda, 1883
John Bull e a Sua Ilha, 1887
O culto da arte em Portugal, 1896
Últimas Farpas, 1916
Quatro Grandes Figuras Literárias,1924
Arte portuguesa,1943
Figuras e Questões Literárias,1943
Farpas Esquecidas,1946

Entendemos alargar no tempo esta merecida homenagem a Ramalho Ortigão, pelo que, ao longo da próxima semana, serão por nós disponibilizados, neste blog, documentos da autoria do escritor, do acervo desta biblioteca e não só, que, estamos certos, irão contribuir para um melhor e mais aprofundado conhecimento do seu trabalho e da sua personalidade. A não perder...

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