A Biblioteca da Ajuda associa-se, com gosto
e entusiasmo, ao Centro Nacional de Cultura na celebração de “O Dia de Ramalho
Ortigão”, a decorrer no dia 8 deste mês, no Centro Cultural de Belém — Sala
Almada Negreiros.
Destacado membro da Geração de 70, Ramalho
“tinha de ser fatalmente escritor”, como disse, após ler As Viagens na minha Terra”, obra que o cativou.
Foi professor de Eça de Queirós, então
estudante no colégio de seu pai, o Colégio da Lapa, onde leccionou francês. Com
este viria a partilhar, mais tarde, parte importante e profícua da sua
actividade de homem de letras.
Estudou em Coimbra, sem que tenha terminado
o curso de Direito.
Colaborou com vários periódicos e foi
redactor de Jornal do Porto, tendo aí
publicado o Literatura hoje, folheto
de intervenção na Questão Coimbrã.
«O único inimigo comum para os últimos dos românticos
no jornalismo portuense era a estupidez humana, representada pelo honesto
burguês da Rua das Flores e da Rua dos Ingleses, e era o espírito imobilizante
de rotina, simbolizado no carroção veículo de família puxado a bois [...].»
(As Farpas, t. I.).
Foi amigo de Antero, após ultrapassar
derrota em duelo desafiado por este, dadas discordâncias ideológicas entretanto
dissipadas; Ramalho, relutante de início, desenvolveu simpatia pelo ideário de
Comte e o de Proudhon.
Viajante, cosmopolita, amante da vida, figura
de fino humor, o escritor foi cimentando uma predilecção pela cultura
tradicional portuguesa, visando sempre cultivar as populações, pendor
pedagógico que o engrandeceu.
Em 1867 fixa residência em Lisboa e exerce
como oficial da secretaria da Academia de Ciências; integra o grupo dos Vencidos da Vida e em 1895 assume funções na Biblioteca da Ajuda,
tendo marcado decisiva e positivamente o seu funcionamento, também por ter
introduzido uma nova metodologia de catalogação, ainda hoje em prática
nesta biblioteca.
Bibliotecário
dedicado e disciplinado, mantinha o hábito diário de registar, por escrito, factos
(visitas de ilustres, por exemplo) e procedimentos inerentes a correcta
organização e eficiente gestão desta casa do Saber.
Nos seus escritos, no fim da vida e já após
a instauração da República, Ramalho expressou o seu desencanto com o novo
regime político.
«Eu sou de uma
idade transitória, vim obscuramente num período de transformação, com uma ala
de sapadores, e pertenço à pequena companhia antipática dos bota - abaixo.» (As Farpas, t. I)
BIBLIOGRAFIA
(primeiras
edições)
Em Paris, 1868
O mistério da
estrada de Sintra (em colaboração com Eça
de Queirós), 1870
As farpas:
chronica mensal da politica das letras e dos costumes (em colaboração com Eça de Queirós), 1871
Banhos de
caldas e águas minerais, 1875
As praias de
Portugal: guia do banhista e do viajante,
1876
Notas de
Viagem, 1878
Pela Terra
Alheia, 1878
Theophilo
Braga, 1879
A Holanda, 1883
John Bull e a
Sua Ilha, 1887
O culto da
arte em Portugal, 1896
Últimas
Farpas, 1916
Quatro
Grandes Figuras Literárias,1924
Arte
portuguesa,1943
Figuras e
Questões Literárias,1943
Farpas
Esquecidas,1946
Entendemos
alargar no tempo esta merecida homenagem a Ramalho Ortigão, pelo que, ao longo
da próxima semana, serão por nós disponibilizados, neste blog, documentos da
autoria do escritor, do acervo desta biblioteca e não só, que, estamos certos,
irão contribuir para um melhor e mais aprofundado conhecimento do seu trabalho
e da sua personalidade. A não perder...
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