Editions Hetzel
BA. 125-II-14
Sobre o conteúdo
da obra em título há uma diversidade de abordagens (já feitas e a fazer) e um
sem número de comentários, emanando da interpretação literária à psicológica,
da artística à sociológica, pelo que nos cingiremos, por imperativos
de objectividade, ao livro - objecto físico – como confluência feliz e grandiosa de texto e imagem.
O texto – isto
é: um conjunto de textos - de Charles Perrault (1628-1703), é composto por
contos de fadas (designação assim fixada, variação do conto maravilhoso, mescla
de conto popular e de fábula, de ambos recebendo lastro), escritos para
crianças e jovens, mas cativando leitores de todas as idades, pelo fascínio que
suscitam, por se constituírem em manifestação de representações dos sonhos mais
profundos e, tantas vezes, inconfessáveis. Personagens mágicos, que nos
transportam através de histórias encantatórias, dão vida a estes contos, atravessados
inusitadamente por situação de conflito, que ultrapassam por acções transcendentes,
sobrenaturais, que determinam sempre um final feliz: a vitória do bem sobre o mal.
“Era uma vez…” situa
o cenário num tempo (passado, indefinido mas “visível”pela imaginação), em que
personagens do onírico, com a verosimilhança que o nosso desejo de
identificação permite, se movimentam numa acção que, parecendo prosaica,
transcende o real e que, por isso, idealiza e glorifica o desfecho.
Gustave Doré (1832
– 1883) ilustra, interpretando, os contos de Perrault, com mestria acima de qualquer
dúvida, desocultando a aparente inocência dos textos ao acentuar traços de medo
e de desejo, de ingenuidade e de perversidade, de candura e de perfídia, isto
é: enfatizando os múltiplos (e paradoxais) sentidos dos textos.
A primeira
edição desta magnifica obra – a ilustrada por Doré – data de 1862, publicada
por J. Hetzel, em Paris.
Esta biblioteca
possui um exemplar datado de 1864 (BA 125-II-14), apresentando uma bela
encadernação em pele de cor vermelha, decorada com profuso gofrado dourado, intocada
pelo tempo, à imagem da perenidade da obra.
Um livro de
referência e uma obra de arte!
Ver: Exposição no Musée d' Orsay, Gustave Doré (1832-1883). El imaginario al poder
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