A dedicação à música como objecto de
fruição cortês, a par da ideia da mesma como objecto de estudo, logo, de
maestria da arte musical como parte integrante da educação dos príncipes, foi
um dos motores da evolução do gosto e das actividades de lazer da família real
portuguesa e, por extensão, das camadas cultas da sociedade, principalmente nos
sécs. XVIII e XIX.
É com D. José e D. Maria I que os gastos com músicos, composições e produções operáticas ou cenográficas de grande porte e ao gosto italiano se introduzem nos hábitos 'esclarecidos' de um reinado absolutista. É inaugurado o "Teatro de Salvaterra", em 1762, onde se representaram muitas das óperas (principalmente cómicas) e outras peças comemorativas de ocasiões especiais para a Família Real. Juntamente com Queluz tem uma utilização periódica pela corte, especialmente na Primavera e Verão.
Dentro dos edificados reais, as
funções religiosas ordinárias e extraordinárias estão acauteladas em estruturas
que contemplam a dimensão musical que diferencia as cerimónias. A basílica do
Real Edifício de Mafra, desde a sua fundação e inauguração com D. João V,
habitação temporária de D. João VI ou sazonal de D. Maria II, é exemplar desta
dimensão religiosa que domina parte do espólio musical da BA.
A ida da corte para o Brasil, sendo um movimento geral administrativo e estratégico, estende ao Rio de Janeiro estes hábitos de fruição musical e muito concorre para o desenvolvimento desta arte no Brasil.
A ida da corte para o Brasil, sendo um movimento geral administrativo e estratégico, estende ao Rio de Janeiro estes hábitos de fruição musical e muito concorre para o desenvolvimento desta arte no Brasil.
O interregno no Palácio das
Necessidades – D. Maria II e D. Pedro V - é acompanhado pelo desenvolvimento da
cidade e das estruturas teatrais a funcionarem na mesma – S. Carlos, Teatro da
Rua dos Condes e do Salitre – a par de serões ou tardes musicais privadas e de
assistência a grandes eventos religiosos musicados.
O tempo político conturbado das "guerras liberais", com a depauperação do país e uma "atitude nova" da família real, põe a ênfase nos nomes recrutados para o ensino dos príncipes, mostrando, por ex., Manuel Inocêncio Liberato dos Santos como mestre dos Infantes reais e acompanhando ou instrumentando peças para/com D. Fernando II, exímio cantor ao que parece, e instrumentando peças para D. Luís.
É com a re-instalação no paço da Ajuda, agora renovado, e a integração neste da Livraria oratoriana mantida parcialmente no Palácio das Necessidades, que nos chegam os núcleos musicais de Queluz e do paço da Bemposta, para aqui remetidos pelo Almoxarife do Paço de Queluz (1845) que tenta evitar a degradação das peças de Marcos Portugal compostas no Brasil e que para ali tinham sido levadas; e pelo organista da Real Capela das Necessidades (Policarpo Procópio Nunes) que pede a integração nas Necessidades do cartório de música da Bemposta (1840) por ser de grande qualidade.
O tempo político conturbado das "guerras liberais", com a depauperação do país e uma "atitude nova" da família real, põe a ênfase nos nomes recrutados para o ensino dos príncipes, mostrando, por ex., Manuel Inocêncio Liberato dos Santos como mestre dos Infantes reais e acompanhando ou instrumentando peças para/com D. Fernando II, exímio cantor ao que parece, e instrumentando peças para D. Luís.
É com a re-instalação no paço da Ajuda, agora renovado, e a integração neste da Livraria oratoriana mantida parcialmente no Palácio das Necessidades, que nos chegam os núcleos musicais de Queluz e do paço da Bemposta, para aqui remetidos pelo Almoxarife do Paço de Queluz (1845) que tenta evitar a degradação das peças de Marcos Portugal compostas no Brasil e que para ali tinham sido levadas; e pelo organista da Real Capela das Necessidades (Policarpo Procópio Nunes) que pede a integração nas Necessidades do cartório de música da Bemposta (1840) por ser de grande qualidade.
É, no entanto, com D. Luís I e D.
Maria Pia que a música volta a ser um elemento catalisador da vida pública e
privada no paço, sendo a este rei que uma grande part e da colecção de música se
refere, quer em autoria, autógrafos ou cópias dedicadas e muitas vezes
inéditos.
As festas no Paço da Ajuda, a ópera
no S. Carlos, os recitais e as aulas de música nos Serenins, as peças para as
capelas reais, Patriarcal da Ajuda incluída até 1843, e uma profusão de
testemunhos físicos comprovam esta tendência musical da última dinastia da
família real.
Guardando, em conjunto, as peças
musicais e os documentos que as iluminam, a Biblioteca da Ajuda mostra nesta
sua colecção de música uma unidade que é uma das características que a tornam
incontornável na compreensão histórica da evolução sócio-artística de Portugal.
Instrumentos de acesso à colecção:
Flores
de Música da Biblioteca da Ajuda : exposição de raridades musicais manuscritas
e impressas dos séculos XI a XX./ Lisboa: Ministério da Educação Nacional –
Biblioteca da Ajuda, 1973.
Catálogo
de libretos da Biblioteca da Ajuda / Lisboa: Biblioteca da Ajuda, 1988
Catálogos locais: "Música e
Músicos" ; "Paço da Ribeira …Palácio da Ajuda: iconografia, notícias
e descrições"; "Inventário da documentação avulsa da Biblioteca da
Ajuda" / Conceição Geada – Biblioteca da Ajuda
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