John Dee, cientista e ocultista (1527 – 1609)

O homem que falava com os anjos



John Dee, matemático, astrónomo, geógrafo, perito em navegação e, mais tarde, astrólogo e ocultista do período Tudor, foi homenageado pelo Royal College of Physicians (Londres), no primeiro semestre do corrente ano, com a exposição “Scholar,courtier, magician: the lost library of John Dee”.
John Dee estudou no St. John’s College, Cambridge, viajou pela Europa, prosseguiu estudos em Lovaina e lecionou em Paris. Regressado a Inglaterra, privou com as elites do seu tempo, tendo sido conselheiro científico e confidente da rainha Isabel I. A ele se atribui a criação da designação “British Empire” (Império Britânico), pelo encorajamento ativo ao domínio britânico de terras que então se julgavam de ninguém. 
Publicou “Memórias Gerais e Raras no que concerne a Perfeita Arte da Navegação”(1577) e, já desiludido com a ciência, dada a impossibilidade de encontrar respostas para os “segredos da criação”, deixou-se seduzir  pelo sobrenatural e o oculto, o epicentro, desde então, do seu estudo. Escreveu “Monas Hieroglyphica” – tratado hermético -, após longa pesquisa de “Steganographia” (alfabeto secreto) de J. Tritheme, um dos mestres de Paracelso.
A biblioteca particular de Dee, composta por cerca de 4000 volumes, era certamente uma das maiores da Europa; o seu trabalho refletiu uma vasta e inquestionável erudição.

 Conhece Edward Kelly (1555 – 1597), em 1582, que muito o impressionou com os seus talentos mágicos, e fez deste seu assistente, muito pela capacidade que este exibia em contactar com os anjos, criaturas espirituais e detentores de ligação à sabedoria espiritual “perdida” no mais recôndito dos textos antigos: o Livro de Enoch.
Dedicaram-se ambos à elaboração da língua angélica, adâmica, enoquiana – formulando os respetivos alfabeto, sintaxe e gramática – no sentido de uma interpretação cabalística que explicasse a unidade mística da criação.
Físico e feiticeiro, a (quase) todos maravilhando, John Dee usava nas suas inúmeras sessões espirituais um espelho negro (“obsidian black mirror”) e uma bola de cristal (“scryer”), objetos ainda hoje guardados em museu e interditos a qualquer utilização.
Abordar a ciência e o sobrenatural, estabelecendo-lhes complementaridade, foi (e ainda é) um empreendimento tentador e de risco, agitador que é das ordens instituídas, do poder e do saber.

Alfabeto enoquiano


 





Jonh Dee acreditava na autenticidade do seu trabalho e nos benefícios dos seus resultados para a posteridade, pelo que registou, em cadernos, toda a informação por si pesquisada e divulgada.
Admirado por muitos, soçobrou, contudo, à humilhação do epíteto, por alguns criado, de mágico malévolo, insulto à sua religiosidade. Viveu os seus últimos anos na miséria.
“Who does not understand should either learn, or be silent.”
        John Dee
                                                                                                                                                                                  
A Biblioteca da Ajuda associa-se à iniciativa de homenagem a John Dee, selecionando do seu acervo e recomendando aos seus leitores a obra:

LE CLERC, Daniel, 1652-1728

Histoire de la Medecine : ou lónt voit l'Origine & le Progrés de cet Art, de siécle en siécle; les sectes, que s'y font formées; les noms des Médecins, leurs découvertes, leurs opinions, & les circonstances les plus remarquables de leur vie. / Par Daniel Le Clerc. - nouvelle édition, revue, corrigée et augmentée par l'Auteur en divers endroits, & surtout d'un plan pour servir à la continuation de cette Histoire dépuis la fin du siécle II jusques au millieu du XVII.. - a la Haye : Chez Isaac van der Kloot, M. D. CCXXIX. - [20], 820, [20] p. : Il; 4º (25 cm) - Frontispício gravado com motivo alegórico e a inscrição "Histoire de la Medecine"


37-X-47 (BA). - Pert.: Ex Bibliotheca Congregationis Oratorii apud Regiam Domum B. M. Virginis de Necessitabus.


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