"Camões e a BA": um anuário em ano de centenário

Cada povo escolhe o génio que é a synthese do seu caracter nacional, aquelle que melhor exprimiu essas tendências, ou o que mais serviu essa individualidade ethnica [1] escrevia Joaquim Teófilo Braga, em 1884, reconhecendo em Camões um desses génios, um nome incontornável da literatura portuguesa cuja fama ultrapassou, desde cedo, as fronteiras nacionais.      

                                                     


A relação da Biblioteca da Ajuda com Luíz Vaz de Camões é tão antiga quanto as suas atuais instalações. De facto, foi por ocasião das Comemorações do Tricentenário de Camões, 10 de Junho de 1880, que D. Luís conseguiu concretizar o seu desejo, contrário ao de Alexandre Herculano, da transferência do acervo desta Biblioteca para a renovada ala norte do PNA onde ainda hoje se encontra.


[Álbum sobre Lisboa e Sintra]/ F. Rocchini photographo. - [1868]. - 
1 álbum [27] f. : 27 fotos, provas em albumina, p&b  

Comemorando-se os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões e os 144 anos das novas instalações da Biblioteca Ajuda (BA), iremos celebrar estes dois acontecimentos, ao longo do ano, através de iniciativas biblioteconómicas e de divulgação, no blogue da BA e refletidas nas redes sociais do Palácio Nacional da Ajuda (PNA).
Assim:

1. Criação do Fundo “Camoniana” no catálogo em linha da BA no qual, de modo gradual, ficarão catalogadas as suas obras ou as a ele referidas.

2. Criação da rúbrica “Camões e a BA”, no Blogue da BA, com periodicidade mensal, decorrendo até ao final deste ano comemorativo, na qual, para além das notícias de atualização do catálogo, incluiremos novidades, curiosidades e histórias relacionadas com o autor e a sua obra.

3. Inclusão, nas visitas programadas à BA, de exemplar da primeira edição espanhola comentada dos Lusíadas com o seu manuscrito original.


A memória de Camões na BA não se faz apenas de livros, encontramo-lo representado de várias formas e materiais no nosso espaço. Deixamos aqui duas dessas memórias: 




Busto de Camões, em gesso e pintura dourada, da autoria de Bordalo Pinheiro e datado de 1861


 





Medalha do 4.º centenário da morte de Luís de Camões, autoria do escultor Joaquim Correia



A face A, representa Camões escrevendo os Lusíadas (?). 







A face B representa figura feminina e o 9.º  verso do soneto Sem causa, juntamente choro e rio


  CPB &MFG

[1] Os centenários como synthese affectiva nas sociedades modernas / Theophilo Braga, 1884, BA. 135-I-6, p. 4-5

2024: Novidades do acervo:




D. Amélia : a neta de Napoleão que se tornou Imperatriz do Brasil / Cláudia Thomé Witte. - S. Paulo : LeYa Brasil, 2023. - 604 p. : il. color 22 cm. - (A História não contada). - Oferecido pela autora à Biblioteca da Ajuda em 12/12/2023
ISBN 978-65-5643-275-5. - Biografia / São Paulo
BA 256-VI-50

Cláudia Witte revela quem foi a segunda mulher de D. Pedro I, uma mulher do seu tempo que soube muito bem usar o seu poder e influência.

Às biografias das mais célebres personagens do Império do Brasil, D. Pedro I, D. Pedro II e D. Leopoldina, junta-se agora a de D. Amélia de Leuchtenberg, a segunda imperatriz brasileira que, apesar da influência que exerceu, é ainda pouco conhecida dos brasileiros e portugueses.

Vinda de Munique, na Baviera, da família de Napoleão Bonaparte, D. Amélia foi “a ovelha que não temeu o lobo”, aceitando casar-se com D. Pedro I, apesar da sua fama. Veio, com apenas dezessete anos, para um continente completamente desconhecido para ocupar um dos cargos mais importantes de uma nação.

Quis o destino que ela só permanecesse no Brasil por um ano e meio. Depois da Abdicação, D. Amélia voltou à Europa com D. Pedro e a sua enteada, Maria da Glória, futura D. Maria II, para retomar o trono de Portugal. Ali, após a morte do marido,  manteve-se fiel à memória de D. Pedro e ao seu legado político e empenhou-se no papel de segunda mãe dos filhos do primeiro casamento do imperador do Brasil, ainda que à distância. É por essa trajetória que Cláudia Witte nos guia, dando um panorama geral do contexto histórico durante a vida da imperatriz e das implicações políticas das decisões e dos movimentos feitos pela realeza, sem se esquecer do lado humano, das vivências, desafios, afetos e desafetos das pessoas que fizeram a história.

Dia Mundial da Educação

24 de Janeiro de 2024: “Educação para a paz duradoura”


126-II-40 (front.)
Celebra-se este Dia Mundial da Educação 2024 sob a égide da educação  para a paz. A educação é o motor de desenvolvimento dos indivíduos e das sociedades humanas mas exige como seu fundamento a paz que permite o diálogo, a inter-relação entre os povos, a harmonia na negociação dos recursos disponíveis e a felicidade como meta de vida das pessoas e das sociedades.

Criado pela Assembleia Geral da ONU através da Resolução 73/25, de 3 de dezembro de 2018, a prioridade universal da educação estava já indiciada em documentos anteriores desta organização como os "Objectivos do Milénio" ou o artº. 4º da "Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável", de 2015. O reconhecimento expresso e alargado da importância da educação para o desenvolvimento individual e social está patente na "Declaração universal dos direitos humanos" (1948) e na "Convenção sobre os Direitos da Criança" (1989), associando definitivamente a educação a um direito humano inalienável. Esta associação explicita ainda a determinação da infância e juventude como um período da vida humana com os seus direitos próprios, sendo a educação o modo de atingir a plenitude do indivíduo e a garantia subsequente de sociedades solidárias, livres e pacíficas.

O conceito de educação, corporizado na sua origem latina no "crescer, desenvolver", "cuidar e nutrir" [educare], está intimamente ligado à concepção de homem e, principalmente, de infância, projectando no futuro a concretização das acções pedagógicas que na família e na sociedade cada época determina. Historicamente, na Europa, foram os séculos XVII e XVIII que marcaram uma rutura com a imagem da infância e as propostas educativas: de um "adulto em miniatura" para um indivíduo completo numa determinada fase da sua existência; de uma exclusividade essencial da razão, que determinava a aprendizagem como um processo de "elevação" do espírito através do exercício lógico e memorização, i. e., de fora para dentro, para uma consideração da necessária relação do indivíduo com o seu meio natural e social, um "aprender fazendo, experimentando", base teórica de todas as pedagogias ditas ativas.

      BA. 34-III-12            BA. 56-VII-4
      

O desenvolvimento industrial e, principalmente, tecnológico das sociedades europeias ocidentais veio enfatizar a necessidade da "aprendizagem ao longo da vida" e o reconhecimento da importância das formas de "educação informal" e de "auto-educação" num tempo em que se multiplicam as fontes de informação e formação. Por outro lado, a organização social do pós-guerras mundiais exigiu da educação um alargamento aos valores sociais democráticos e à construção de um mundo de paz e prosperidade para todos. Se bem que o conceito de "educação para a paz" seja indissociável da educação humana e, como tal, esteja já presente nas teorias pedagógicas fundacionais, cada vez mais este aspecto é fulcral num mundo global e cuja sustentabilidade se depara com crises, obstáculos e desigualdades criadas ainda pelo progresso civilizacional. A consciência desta situação a par do reconhecimento da finitude dos recursos naturais, desigualmente distribuídos, são o fundamento para a chamada de atenção da ONU neste dia mundial da educação que não se pode dissociar dos direitos humanos fundamentais.
A Biblioteca da Ajuda congratula-se com a atenção mundial e os eventos decorrentes desta comemoração colectiva, evocando os princípios que estabelecem este dia mundial da educação e reconhecendo publicamente o seu compromisso educativo, num esforço diário de manter e divulgar a memória patrimonial bibliográfica que alicerça o nosso futuro comum.





MFG @ BA

Novidades: Artigos em Linha Nº 11

Já está disponível, através do site do Palácio Nacional da Ajuda (sep. Estudos), o texto
«Banidos» os proprietários das livrarias mas não os livros».  [aqui]

Movidos pelo mesmo espírito indagador que os livros e documentos suscitam, e no confronto com alguma documentação manuscrita que integra o Arquivo Interno da casa, parte dela inédita, reunimos alguma informação, que nos permite acrescentar novos dados a uma história já secular. É agora nosso propósito, com este trabalho, dar um contributo para um melhor conhecimento sobre o modo como, com o propósito de reconstruir o brilho devido a uma biblioteca que era a privada do rei, se procedeu a aquisições e incorporações, nas primeiras décadas do séc. XIX, dedicando especial atenção ao período correspondente à regência e governos de D. João VI (1799-1826) e de D. Miguel (1828-1834), por menos tratado e conhecido.
A. Mafalda Távora de Magalhães Barros
Biblioteca da Ajuda
2024, 45 pp. a cores
Artigos em Linha Nº 11

Recordamos hoje: A primeira Imperatriz do Brasil



Maria Leopoldina de Áustria (1797-1826)

64092 DIG

Instituição / Proprietário: Palácio Nacional da Ajuda / Biblioteca da Ajuda
Categoria:Pintura
Autoria / Produção: Desconhecido
Fotógrafo: Luísa Oliveira, 2019
Copyright: © PNA




BA reg.  197 D

Faz hoje 227 anos que nasceu, em Viena, Caroline Josepha Leopoldine von Habsburg-Lothringen, acima retratada por autor ainda desconhecido. Filha do Imperador Francisco I da Áustria e de Maria Teresa Carolina Josefa de Nápoles e Sicília, casou com o Príncipe  D. Pedro de Alcântara, por procuração, em Viena no dia 13 de maio de 1817 (curiosamente no dia dos anos de D. João VI, seu sogro) e desembarcou no Rio de Janeiro a 5 de Novembro do mesmo ano. Após o casamento "adota" o nome Maria,  Maria Leopoldina, pelo qual passa a ser conhecida na lusofonia. 



Embarque de D. Leopoldina em Lyorne (...) para o Rio de Janeiro ...







História do Brasil, 1823
BA. 21-II-14


Nasceu Arquiduquesa da Áustria, foi Princesa da Beira de 1817 até 1822, Imperatriz do Brasil de 1822 até 1826 e ainda Rainha de Portugal e dos Algarves entre 10 março e 28 maio de 1826.

Foi mãe de:

Maria da Glória: futura Maria II Rainha de Portugal
    Miguel de Portugal (26/04/1820)
    João Carlos, Príncipe da Beira (6/03/1821- 2/02/1822)
Januária do Brasil: futura condessa de Áquila
    Paula do Brasil 
(17 /02/ 1823 -16 /01/1833)
Francisca do Brasil: futura princesa de Joinville
Pedro de Alcântara: futuro Pedro II Imperador do Brasil

Muito instruída, culta e poliglota ficará, para sempre, associada ao processo de independência do Brasil, por ter assinado o decreto de independência numa altura em que, interinamente, substituía o marido. 

D. Leopoldina morre a 11 de dezembro de 1826, no Palácio de São Cristóvão, de complicações resultantes de um aborto espontâneo. Inicialmente sepultada no Convento da Ajuda, Rio de Janeiro, em 1911 foi tresladada para o convento de Santo António e, em 1954, para a cripta da Capela Imperial, em  São Paulo.


Mais:

Biblioteca da Ajuda: Documentação relativa a D. Leopoldina [aqui]

Brasiliana Iconográfica: A chegada de d. Leopoldina ao Brasil [aqui]

Matrizpix: Imagens de D. Leopoldina [aqui]



Novidades do catálogo: Instrumentos de pesquisa

Informamos os nosso leitores que já está disponível online, em acesso livre, o catálogo da col. de fotografia da Biblioteca da Ajuda.

 [aqui]



A consulta da coleção de fotografia não pode ser atualmente efetuada na Biblioteca da Ajuda, devido à sua deslocação para tratamento no Arquivo Fotográfico, mas poderá consultar os exemplares já tratados a partir de Matrizpix ou Matriznet