"Fazer Gazeta" (2): O terramoto



O terramoto, seguido de maremoto e incêndios vários, teve início cerca das 9h40m do dia 1 de Novembro de 1755,  dia de todos os Santos "Festum Omnium Sanctorum" fazendo um elevado número de mortos...
 
A escassez de notícias referentes ao "memorável" acontecimento em Lisboa, na Gazeta, leva-nos a supor que as oficinas em que laboravam, na Rua Nova dos Ferros situada na baixa da cidade e uma das mais importantes artérias da cidade, tenha sido bastante afetada pelo terramoto...
 
n.º 46, 13/11/1755
N.º 45, 6/11/1755












Enquanto que em Portugal, pelo menos no caso de Lisboa pois o Algarve mereceu destaque diferente, as notícias foram dadas com parcimónia, já em frança a Gazette dedicou-lhe algum espaço...


Gazette de France n.º 47, 22/11/1755
Gazette de France n.º 47, 22/11/1755






    
 







"Fazer Gazeta" (1)

Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves:

“Fazer gazeta”

Inicialmente, com o sentido de «faltar às aulas», a expressão usa-se hoje quando se falta a qualquer compromisso ou obrigação.

«Gazeta» foi, de facto, a primeira designação dada aos periódicos.

‘Gazzetta‘ (de início: gaxeta) era uma pequena moeda de reduzido valor (due soldi), o custo exato de cada exemplar da Gazzette delle Novità, periódico semanal manuscrito, de pequeno formato, vendido em Veneza no séc. XVI, contendo notícias oficiais sobre a situação do império turco.

Curiosamente, há também quem afirme que o termo provém de “gazza”, em português: pega, a ave palradora.

As primeiras «gazetas» não eram redigidas por jornalistas profissionais, obviamente, no sentido de pessoas inteiramente dedicadas à sua composição.

Escreviam-nas aqueles que tinham capacidades e conhecimento para o fazer, mas que ganhavam a vida noutras profissões. Muitas vezes, por necessidade de ultimarem a saída das publicações, tinham de faltar aos seus ofícios para irem «fazer gazeta». Habitualmente, essas faltas consistiam na ausência às aulas, atendendo a que seriam, muito provavelmente, estudantes os primeiros «jonalistas».

A Gazeta de Lisboa, um dos primeiros periódicos a circular em Portugal, teve início a 17 de Agosto de 1715



No dia 10 de Agosto, o jornal apresentava o seu primeiro número com a denominação de "José Freire de Monterroio Mascarenhas, que dirigiu o jornal até à sua morte, em 1760.
Notícias do Estado do Mundo". O seu redactor era

BA. 170-III-172







Em 17 de Agosto de 1715, o número dois aparecia já com o título de "Gazeta de Lisboa", título que se manteve até 30 de Dezembro de 1717. e esteve na génese do jornal do governo,
hoje - e desde 1976 - designado Diário da República.

BA. 170-I-172 (1)
 

 Anteriores a esta, refira-se a existência da Gazeta da Restauração (1641-47) e a circulação das folhas periódicas “Relações” e “Mercúrios”.



[Mercúrio Português com as novas da guerra entre Portugal e Castela - Foi director e redactor António de Sousa de Macedo, considerado como o primeiro jornalista português. Lisboa, na Of. de  Henrique Valente de Oliveira, [fl.164?-167?]. Anos de 1663 a 1666 e Julho de 1667]



BA. 170-II-173





Lançada a 10 de setembro de 1808, no Rio de Janeiro, a Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro periódico impresso no Brasil, sob a égide de D. João VI e marca o início da imprensa no país. O jornal era publicado duas vezes  por semana (quartas-feiras e sábados) e o seu conteúdo era oficial, consistindo basicamente em comunicados do governo. Com a Independência a publicação da Gazeta do Rio, denominação corrente a partir de 29/12/1821,  tem o seu término com a edição nº 157, de 31 de dezembro de 1822.  Com a independência, a Gazeta deixou de circular tendo sido substituída pelo Diário Fluminense, de Pedro I e o Diário do Governo, de Pedro II.



Gazeta n.º 1, 10 de Set. 1808
Gazeta n.º 2, 17 de Set. 1808

Nur al-Din Ibn Ishaq Al-Bitruji (N.???? – M.c.1204)

Conhecido no Ocidente por Alpetragius, latinização do seu nome, nasceu em Marrocos. Fixou-se em Sevilha (Isbilah) onde desenvolveu os seus estudos, e foi, muito possivelmente, discípulo do filósofo e sábio Ibn Ṭufayl.

Al-Bitruji foi um dos mais importantes astrónomos do seu tempo, tendo a sua obra -'Kitab-al-Hay'ah - conhecido ampla divulgação e merecido reconhecimento na Europa entre os séculos XIII e XVI.

Primeiramente traduzida para Hebraico, por Mosheh ben Tibbon, em 1259, foi depois vertida desta língua para Latim, por Calo Calonymos, também tradutor de Averroes, com edições impressas em Viena e Veneza, no ano de 1528.

Nessa obra, Alpetragius, enunciou - sem êxito, inicialmente, mas reconhecida como alternativa válida - uma teoria que ultrapassava as dificuldades físicas inerentes ao modelo geométrico de Ptolomeu, pois seguira rigorosamente o princípio aristotélico, logo, também, homocêntrica, de movimento perfeito e circular, posteriormente “corrigida” e assumida como órbita elíptica.

Na primeira metade do séc. XX, como homenagem ao astrónomo e filósofo, foi atribuído o nome de Alpetragius a uma cratera da lua, com as seguintes coordenadas: Lat: 16.0°S, Long: 4.5°W, Diam: 39 km, Prof: 3.9 km.

A Biblioteca da Ajuda possui, incorporado na sua rica coleção de cimélios, um dos capítulos da obra 'Kitab-al-Hay'ah, cuja consulta e leitura recomendamos
.


          


ALPETRÁGIO [Aber Ishãq Al- Bitruyi]

Alpetragii Arabi planetarvm theorica


 Lucantonio Giunti
phisicis rationibus probata, nuperrime latinis litteris mandata a Calo Calonymos Ebreo Neapolitano / Alpetragius Arabus

Veneza: Luceantonii lunte Florentinianno; [1531]

27, [1] f. ; 2.º. marca de imp. 

 
 BA. CIM. 50-XV-4, n.º 4



Dia Mundial dos Correios: Os "itinerários"

Neste Dia Mundial dos Correios, 9 de Outubro, a Biblioteca da Ajuda lembra os "itinerários". Criados como 'livros práticos' para os viajantes - profissionais, como a posta ordinária e os 'enviados', ou de lazer e complemento educativo do fidalgo a partir do séc. 17 – o exemplar mais antigo que a BA possui à guarda é o
Memorial ou abecedário de los mas principales camiños de España. Ordenado por Alonso de Meneses correo. Va por abecedário, como por la tabla se vera. Com el camiño de Madrid a Roma. Va añadido al cabo el Repositorio de las cue[n]tas reduzidos los escudos a como su Magestad manda valgan. – Impresso en Toledo : en casa de Juan de Ayala. Año de M. D.L. VIII. BA. 17-IV-43

Este modelo impresso, indicando primeiro os caminhos regularmente utilizados pela posta tendo por público-alvo os viajantes não profissionais, é complementado com informações sobre câmbios e advertências sobre o tipo de caminho.
 
 
 
 
 



No séc. XVIII, época de viagens e passeios, o conhecimento necessário aos viajantes inclui já as distâncias em quadros, os locais de mudança e descanso de cavalos, os caminhos de carruagem ou de cavalo, informações geográficas mínimas antecedendo os guias e índices e/ou resumos dos caminhos.
BA. 21-V-36
BA. 21-V-35

 Itinerario Español o Guia de caminos.
 


Madrid, 1767
Alcalá, 1798



















O sentido de livro prático e necessário está patente no exemplar de um guia português do fim do séc. XVIII, cuja organização interna – capítulo para caminhos de Portugal, outro para Portugal e Espanha, outro ainda para as principais cortes da Europa – demonstra uma síntese de experiência anterior e evolução tipográfica. Comum a todos a sua pequena dimensão, isto é, a forma adapta-se ao conteúdo, sendo advertido num deles que foi voluntariamente que se não escreveu mais para não ficar um volume difícil de transporter.

GUIA DE VIAJANTES ou roteiro de Lisboa para as Cortes e cidades principaes da Europa, villas, e lugares mais notaveis de Portugal, e Hespanha. Lx.: Of. Francisco Luiz Ameno, 1791. – BA. 21-V-4
 Aos correios – a posta ordinária, "os próprios" - viajantes profissionais mais antigos, devemos o conhecimento de "experiência feito" que permitiu pela partilha de informações a criação dos itinerários realistas e pragmáticos que proliferam na Europa do séc. XVIII e constituem os antepassados dos "Guias de Viajem" actuais.