Camões na BA: a edição de Os Lusíadas do Morgado de Mateus"


Os Lusíadas
: poema épico de Luis de Camões. – Nova edição correcta e dada à luz por D. Iosé Maria de Souza-Botelho, Morgado de Mattheus, Socio da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Paris: na Officina Typographica de Firmin Didot, impressor do Rei, e do Instituto. – [10], CXXX, [2 br.], 413, [1 br., 10, [2 br.] p. : il., 12 estampas; 2º (35 cm).

BA. 50-XV-16, 50-XV-24 e 134-III-12

 







Uma das mais conhecidas edições de Os Lusíadas é a preparada – e paga – pelo Morgado de Mateus, publicada em 1817, em Paris, numa edição não comercial.

D. José Maria do Carmo de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1758-1825), 5.º morgado de Mateus, foi moço-fidalgo da Casa Real, senhor e administrador da Casa de Mateus e de outros vínculos, teve uma educação esmerada, sendo dos primeiros alunos inscritos no Colégio dos Nobres de onde lhe proveio o conhecimento dos autores clássicos e a preparação para o curso de Matemáticas na Univ. de Coimbra. A sua vida profissional manteve-o primeiro como militar, carreira que escolheu, sendo chamado depois a servir como conselheiro real e diplomata em diversos países, regressando a Portugal aquando da morte de seu pai e sequente encargo de gestão dos seus domínios. Iniciou a sua carreira em Paris, cidade a que regressou após o interregno em Portugal e onde escolheu passar os últimos tempos da sua vida dedicando-se a estudos literários e mormente aos "Lusíadas" de Luís de Camões. Ali casou pela segunda vez, com Adelaide Maria Fileul de la Bellarderie, viúva do conde de Flahaut, conhecida como Madame de Sousa entre os escritores da época, e ali pereceu.

A ideia de preparar uma edição de luxo desta obra, que materialmente fizesse jus ao elevado conteúdo que reconheceu neste marco literário, ocupou-o durante mais de uma década e sobre este seu propósito escreveu:

“O mais ardente patriotismo, e a minha admiração por Camões me fizeram unicamente entrar nesta empreza. Retirado dos negocios publicos, e do serviço do meu Soberano, e chegado ao outono da vida, com huma saude arruinada, pensei que na minha situação, não poderia fazer cousa mais agradável á minha Patria, do que dar-lhe huma boa edição daquelle Poema, que he o maior monumento da gloria nacional. Espero pois que Ella receba benignamente esta derradeira prova do amor que sempre lhe pro-/ p. XLVIII/ fessei, e professarei, podendo com a mão na consciência dizer-lhe, neste fim da vida:

Preclara conscientia sustentor, cum cogito me de Patria aut bene meruisse, cum potuerim, aut certè nunquam nisi divinè cogitasse. (Cicero ad Attic.)

Paris, Setembro de 1816.”

In Os Lusíadas do Morgado de Mateus, Paris: Firmin-Didot, 1817, pp. XLVII/XLVIII (“Advertência”)

Determinada a ideia procurou durante vários anos os melhores técnicos de impressão para a execução do projeto, vindo a estabelecer contrato com nomes importantes da pintura e gravura do seu tempo e um impressor que se dedicou à ideia do Morgado e com ele criou a edição de luxo de 210 exemplares, que foi toda oferecida. Sobre o processo de feitura da edição de 1817, lembremos também aqui as palavras do Morgado:

"Para que esta edição enfim fosse digna do nosso Poeta, e da Nação, empenhei Mr. Firmin Didot (que une á conhecida superioridade na sua arte, o amor das bellas-lettras, o conhecimento dos clássicos, e a cultura da poesia) a encarregar-se da impressão; o que elle fez com o maior desvelo, gravando, e fundindo novos caracteres na sua oficina typographica para esta edição, e vigiando elle mesmo comigo a sua execução, e correcção, ao ponto que espero se não achará hum erro typographico. Eu não /p. XLVII/ conheço edição, mesmo das melhores, que deles seja isenta.

Convidei Mr. Gerard [François G., barão, 1770-1837], membro do Instituto, famoso pintor de que a França se honra, bem conhecido na Europa pelo seu engenho, e juízo que distinguem as suas composições, e painéis históricos, para dirigir os desenhadores e gravadores de estampas que ornam esta edição; … ; encarregando-se elle mesmo do retrato de Camões.”

 In Os Lusíadas do Morgado de Mateus, Paris: Firmin-Didot, p. XLVI-XLVII (“Advertência”).

A Biblioteca da Ajuda possui 3 exemplares desta edição, diferenciados nas encadernações e restantes ornamentos onde, curiosamente,  se deteta 1 variação tipográfica (gralha) nos versos da p. 333 dos exemplares com as cotas 50-XV-24 e 134-III-12.

        

 Cortes decorados do ex. 50-XV-24








Encadernação do ex. 50-XV-16



Para saber mais sobre a edição: [aqui

Deixamos, abaixo, link para o registo da obra, da Prof. Anne Gallut-Frizeau, Le Morgado de Mateus, Editeur des Lusíadas, já publicada em português, profunda conhecedora de D. José Maria de Sousa, Morgado de Mateus, e da sua edição monumental "Os Lusíadas".

Registo da obra de Anne Gallut [aqui


FG & CPB @BA 

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