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De facto, Daniel Gardner
(1785-1831), médico inglês, integrara a “Academia Real Militar”, criada por
carta régia de 4 de dezembro de 1810, no Rio de Janeiro, por inspiração do
ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812),futuro Conde de Linhares,com o objectivo de promover o ensino das ciências matemáticas, da física da química, da
mineralogia, metalurgia e história natural, daquela que seria a semente para a
“institucionalização do ensino das ciências no Brasil”[aqui].
As aulas de Química seriam ministradas no quinto ano do curso e o Dr. Gardner,
cidadão britânico, era nomeado lente responsável pelo seu ensino, auferindo um
salário anual de 600$000, devendo 100$000 corresponder a gastos com demonstrações práticas. O decreto facultava
ainda ao professor ministrar outros "cursos além dos que for obrigado a
dar na Academia Militar" (Santos,
Nadja Paraense dos; Filgueiras, Carlos Alberto Lombardi, “Daniel Gardner, autor do primeiro livro de química brasileiro, um desconhecido”)
A presença Dr. Gardner no
Rio de Janeiro era, no entanto, anterior àquela data, pois desde 1809 que o
mesmo leccionava Química no Seminário de S. Joaquim, contribuindo ainda para a
divulgação dos conhecimentos sobre aquela ciência mediante a realização de
palestras que anunciava na Gazeta do Rio de Janeiro, nos anos de 1810-1811,
sendo os anúncios acompanhados da informação de que o Príncipe Regente D. João(1767-1826)
e a Família Real, já teriam presenciado as experiências físicas e químicas, que
as mesmas seriam repetidas e, novidade, que estariam abertas à participação das
senhoras - “as senhoras serão admitidas” lê-se na Gazeta do Rio de Janeiro (n.º
51, 26 de Junho de 1811).
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n.º 51, 1811 |
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o segundo dia “Sobre a Electricidade” versando “Observações sobre a particularidade deste fluido. Hum fluido, seus géneros, e meios activos no laboratório da Natureza. Descripção da Maquina electrica. Fluido electrico produzido por meio de fricção”;
e no terceiro dia dedicado “A Sciencia Pneumatica”, apresentada como “a doutrina do ar, incluindo suas propriedades mecânicas e químicas”
Com estas iniciativas se davam os primeiros passos para o ensino da Química no Brasil, segundo os preceitos científicos mais avançados e baseado em experimentalismo laboratorial, estudos estes incentivados pelo Príncipe Regente D. João que, com a sua participação no laboratório do eminente cientista, bem como da Família Real, mais não fazia do que creditar as suas aulas e aquele ensino.
O Dr.Gardner seria ainda o
autor do primeiro livro de Química publicado no Brasil, pela Impressão Régia,
em 1810, dedicado ao Príncipe Regente, "Syllabus ou Compendio das
Lições de Chymica", e que era, na sua essência, “um programa comentado
de seu curso”. O médico inspirara-se na obra de A. F. Fourcroy que na sua
tradução recebera o título “Filosofia
Química ou Verdades Fundamentaes da Química Moderna”, (BA- 37-VII-40), obra
traduzida por Manoel Joaquim Henriques de Paiva, e impressa em Lisboa no ano de
1801, e que em dezembro de 1816, fora
“recomendado para o futuro ano escolar”, sendo, então, “considerado o primeiro
compêndio adotado oficialmente num curso regular de Química no Brasil” (Nadja Paraense dos Santos; Carlos A. L. Filgueiras- “O primeiro curso regular de química no Brasil”, São Paulo 2011)
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A divulgação desta disciplina e a curiosidade que despertara entre uma
camada social ávida de conhecimentos, talvez fosse a razão para encontrarmos no
Catálogo da Livraria de D. Carlota Joaquina, além do manuscrito contendo o
sumário de parte das lições do Dr. Gardner, esta
obra do químico francês Antoine François de Fourcroy (1755-1809), na sua tradução
portuguesa.
Anúncios da Gazetas:
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n.º 51, 1810 |
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n.º 74, 1811 |
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n.º 60, 1811 |
MMB
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