Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor

“A história da palavra escrita é a história da humanidade”, Irina Bokova, UNESCO

A 23 de Abril celebra-se, desde 1996 e por iniciativa da UNESCO, o Dia Mundial do Livro.

Pretende-se com esta iniciativa chamar a atenção para esta área da criatividade e, bem assim, para os direitos dos que imaginam, sonham, refletem, pesquisam, compõem, escrevem e assinam os livros.

Nesta data, no ano de 1616, faleceram Miguel de Cervantes e William Shakespeare - que havia nascido nesse mesmo dia do ano de 1564 - génios universais da literatura.

A data pretende promover e sublinhar a importância ímpar do livro como bem cultural, determinante para o desenvolvimento e qualificação da humanidade, essencial que é para o desenvolvimento da literacia, da realização individual e da equidade social.

As mudanças, por vezes inquietantes, sentidas nesta área pelo efeito das novas tecnologias - formato digital, transição para o licenciamento aberto e partilha de conhecimento – deverão ser encaradas como oportunidades, suscitando, por isso também, uma clara e justa redefinição de livro e um reenquadramento do significado de autoria: eis uma causa e um projeto que a todos beneficia.

O Direito de Autor não é uma taxa é o salário dos Autores
A Defesa do Direito de Autor é a garantia da defesa do património e dos valores culturais
(Sociedade Portuguesa de Autores)

A Biblioteca da Ajuda, com um riquíssimo, raro e variado acervo de cerca de 150 000 exemplares, é uma homenagem permanente e grandiosa ao livro e ao autor, pelo que selecionar uma ou duas obras - tantas nos ocorre destacar - é exercício redutor.

Superamos esta situação, sem dificuldade, indicando a seguinte obra magna:


Cancioneiro da Ajuda

Pergaminho

(Texto em Galego-Português. – Letra gótica. – Capitais ornamentadas a cores e ouro, com arabescos, caras grotescas, humanas e de animais; ilustrações com cenas da vida trovadoresca e palaciana. – Pauta de 4 linhas com ausência de notação musical).

                                      
De quant'eu sempre desejei
João Soares Somesso

De quant'eu sempre desejei
de mia senhor, nom end'hei rem;
e o que muito receei
de mi aviir, todo mi avém:
ca sempr'eu desejei mais d'al
de viver com ela e, mal
que me pês, a partir-m'hei en.

E já que m'end'a partir hei,
esto pod'ela veer bem:
que muita guerra lhe farei,
porque me faz partir daquém,
ond'eu sõo mui natural;
e sei-lh'eu um seu home atal
que lh'haverá a morrer por en.

E non'o pode defender
de morte, se mi mal fezer
- ca ũa morte hei eu d'haver;
e pois eu a morrer houver,
todavia penhor querrei
filhar por mi: e tolher-lh'-ei
est'home, por que me mal quer.

E pois lh'eu est'home tolher,
faça-m'ela mal, se poder
- e non'o poderá fazer;
mais pod'entender, se quiser,
que log'eu guardado serei
dela, e non'a temerei,
des que lh'eu esto feit'houver.
 


“ O que é a literatura? Um lugar que não é lugar, um tempo que não se mede pelo tempo, uma língua que não é linguagem. Esse lugar, esse tempo e essa língua podem tornar-se objeto de um desejo, permitem pressentir uma forma particular de conhecimento, ou talvez de revelação”.  

George Steiner, O Silêncio dos Livros, Lisboa: Gradiva, 2007.

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