Em Março de 1572, o impressor António Gonçalves trazia à luz Os Lusíadas de Luís de Camões. Publicado com o alvará de D. Sebastião I (1554-1578), que concedia ao autor a totalidade dos direitos sobre a obra (licença) e que, por Privilégio, se estenderia em exclusividade por 10 anos. É a Camões que se concede licença para "fazer imprimir em Lisboa" a obra poética que narra os feitos dos portugueses nas "partes da Índia", em linguagem, isto é, na língua vulgar e regida pelas regras da poesia clássica, como ditava a modernidade renascentista. A epopeia marítima dos portugueses, algumas décadas depois do seu início, é elevada a matéria épica e desígnio da grandeza nacional. Lembremos que a imprensa como a conhecemos – tipos móveis – estava na sua primeira infância e todos estes aspetos indiciam a singularidade desta obra no universo sócio-cultural(1)em que apareceu.
Alvará da ed.
de 1572 de Os Lusíadas. Exemplar da
BNPortugal acessível online Aqui
A Biblioteca da Ajuda aparece, em catálogos antigos e em referências bibliográficas de textos académicos de finais do séc. XIX / início do séc. XX, como guardiã de 1 exemplar dessa 1ª edição(2)que, atualmente, não integra a coleção. Esse exemplar, pertença de D. Manuel II, foi restituído ao seu proprietário em 1930 e faz parte, hoje, da biblioteca da Fundação Casa de Bragança, dentro do fundo "Camoniana" desta instituição.
Auto de Arrolamento 490 (ANTT)
Biblioteca U'''
Sala B 6791-6829 4568-4575
1928, 17 de Janeiro
"Espécies raras, existentes na Biblioteca da Ajuda julgadas propriedade particular do Senhor Dom Manuel de Bragança:..." Assina a entrega Jordão de Freitas (Diretor da BA) e a recepção João Sequeira, representante da Administração da Casa de Bragança. fls. 1-3
Na Biblioteca da Ajuda é a 1ª edição espanhola comentada de Os Lusíadas que detém a centralidade da (sub-)coleção "Camoniana" pela riqueza que lhe advém de manter junto o manuscrito que a originou:
Lusíadas / de Luís de Camoens Príncipe de los Poetas de España. Comentados por Manuel de Faria i Sousa Cavallero del habito de Christo, i de la Casa Real. Año M. DC XXXVI [1626]
Cod. Ms., papel, 2 cols. 4.º, 806 fls. 2 cols; Original, autógrafo
BA. 46-VIII-39
Luis de Camoens principe de los poetas de España,:
[primero - quarto tomo]. En Madrid : por Ivan Sanches, 1639 .
BA. 50-XIV-18
Registo Bibliográfico
Aquiversão digital (BNP)
Aqui
Considerado um dos comentários mais abrangente da epopeia de Camões este resultado não será estranho ao objectivo de Manuel de Faria e Sousa de divulgar em língua espanhola, “resgatando-o da sua obscuridade de herói” o poeta lusitano que ombreava, na sua opinião abalizada, com os maiores clássicos gregos e latinos, nomeadamente Homero e Virgílio. Os comentários alargados e extensíveis a todo o poema, fizeram desta obra uma referência na tradição exegética da obra de Camões.
Outros comentários da obra magna camoniana e sobre o autor, deixaram marcas na tradição bibliográfica e integram a coleção da BA em espaços distintos e concordantes com a sua natureza física.
Em versão manuscrita:
Os Lusíadas comentados por D. Marcos de S. Lourenço, 1633
Os Lusíadas de Luis de Camões princepe dos poetas heroicos / comentados por o P. D. Marcos de S. Lo[urenç]º cónego regular da Congregação de Sancta Cruz de Coimbra
Autógrafo, ms. sobre papel; - In 2º (31 cm); 353 fls.
BA. 46-VIII-40
V. Tb.:
Edição crítica do manuscrito 46-VIII-40 da Biblioteca da Ajuda, comentado por D. Marcos de S. Lourenço: BA. 262-VI-34
Na coleção de impressos antigos:
OS LUSÍADAS comentados por Manuel Correia, 1613 (BA. 50-X-40)
Registo bibliográfico:
Aqui
Os Lusíadas comentados por João Franco Barreto, 1669 (BA. 61-III-18, n.º 1)
Registo bibliográfico:
Aqui
FG@BA
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(1) Afirmação verdadeira também para a materialidade e evolução tecnológica de que a questão da existência de 2 edições de 1572, com as representações do pelicano divergentes e variações em alguns versos além das diferenças imediatamente visíveis no tamanho dos tipos utilizados.
(2) Cf., por ex., Os Lusíadas, p. III/IV, da ed. de 1817, do Morgado de Mateus "Sei porém que / o exemplar de 1572, existente na Bibliotheca Real de Lisboa, he da edição diferente dos meus exemplares, … ."
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