A Suprema Ordem do Crisântemo: uma insígnia do Japão em 20 de Abril de 1883

Faz parte da coleção de manuscritos avulsos da BA um documento em japonês, BA 54-XI-13, nº 17, com tradução em francês, que é paralelo de um objecto do acervo do Palácio Nacional da Ajuda, o Grande Cordão da Suprema Ordem do Crisântemo.

O Grande Cordão da Suprema Ordem do Crisântemo ( (大勲位菊花章, Dai-kun'i kikka-shō), insígnia criada pelo Imperador Mutsu-hito em 1876, é a mais alta distinção do Japão, mantendo apenas uma classe e podendo ser atribuída também a título póstumo. Apesar de existir apenas uma classe, a insígnia pode ser constituída pelo Grande Cordão ou pelo Grande Colar, o qual só apareceu em 1888 e que é exclusivo, em vida, do Imperador. Como se depreende da data - é uma honra militar recente - a sua atribuição a D. Luís I foi uma das primeiras efetuadas pelo Imperador Mutsuhito a "cabeças coroadas" europeias. Atribuída pelo Imperador, ouvido o governo, é a mais alta condecoração japonesa, honrando japoneses por serviços excecionais ao Japão e atribuída a pessoas reais estrangeiras como afirmação de amizade.


                                              

Constituída por uma faixa vermelha debruada a azul, usada sobre o ombro direito, tem pendente 1 distintivo esmaltado em forma de estrela de 4 pontas com raios brancos sobre o verde das folhas dos crisântemos que, esmaltados a amarelo, repousam entre as 4 pontas. Este mesmo crisântemo florescente amarelo esmaltado suspende o distintivo do Grande Cordão. No centro do distintivo um sol nascente. A estrela, usada ao peito à esquerda, é idêntica ao distintivo exceto na suspensão e no material de fabrico: a prata. Ao centro um medalhão dourado de 8 pontas, esmaltado com raios brancos e um sol central a vermelho.







O crisântemo é a flor nacional do Japão e a sua associação ao Imperador e Casa Imperial japonesa deriva das características que lhe são adstritas simbolicamente. Originário da China é usado como selo imperial do Japão desde o séc. VIII e como símbolo imperial exclusivo a partir do séc. XIX, fixando-se na representação da flor amarela ou laranja com 16 pétalas em cada uma das 2 camadas. Todos os outros familiares da Casa Imperial usam variações simplificadas deste. As qualidades que se lhe associam são, simultaneamente, as do próprio Imperador: Poder, Longevidade, Equilíbrio e Felicidade. A sua forma e cor evocam o sol e é a flor-sol – ou flor dourada, como é designada em chinês – que melhor exprime o seu imenso potencial simbólico no Japão.

Esta honra foi correspondida por D. Luís, ao agraciar o embaixador da legação japonesa que se despedia nessa altura (finais de Abril de 1883), com a Ordem Militar de N.ª Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa, em 15 de Maio de 1883 e conforme nos atesta o Diario Illustrado, 16 de Maio de 1883, ano 12, nº. 3.600.







"Com a grã-cruz de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, general Ida, ministro de sua magestade o Imperador do Japão em Lisboa"

Diario Illustrado, 16 de Maio de 1883 [mais aqui]
Todos os membros reais após D. Luís I – D. Carlos, D. Luís Filipe, D. Manuel II - foram agraciados com a Suprema Ordem do Crisântemo confirmando assim os laços de amizade que unem os 2 países, com pequenas interrupções, há 480 anos.

Há a destacar ainda as fórmulas protocolares e uso do francês, como língua pan-europeia, que fazem  deste documento e da sua tradução também um testemunho físico das histórias das relações internacionais. A utilização da expressão "mon frère" com que se dirige a D. Luís, enfatiza os laços de amizade que ligam os dois países/monarcas e de que a insígnia enviada é expressão máxima.

MFG (BA)

Sem comentários: