Zoroastro, Confúcio e Maomé...


Zoroastre, Confucius et Mahomet, comparés comme Sectaires, Législateurs, et Moralistes; avec le Tableau de leurs Dogmes, de leurs Lois et leur Morale / par M. de Pastoret.  - A Paris : chez Buisson, 1787.
BA - 31- IV- 11

A obra em apreço, integrante do acervo desta biblioteca, da autoria de M. de Pastoret e publicada em Paris, no ano de 1787, é um estudo pormenorizado e comparado sobre três religiões, cuja importância, sempre atual, merece a nossa atenção e consequente reflexão.




"O que lavra a terra com dedicação tem mais mérito religioso do que poderia obter com mil orações sem nada fazer. Age como gostarias que agissem contigo."

    Zoroastro



Das religões aqui tratadas, o Zoroastrismo é, porventura, a que menos referências suscita ao leitor ocidental, hoje, apesar de a sua emergência ter constituído um ponto de viragem determinante na evolução ideológica da humanidade e, bem assim, pela influência efetiva que teve nos sistemas de crenças do Judaísmo, do Cristianismo e do Islamismo.Dedicamos-lhe, por isso, umas brevíssimas linhas:

Religião pré-islâmica, esta é, também, uma das mais antigas religiões monoteístas, sendo dúbia a datação da sua fundação, dada a escassez de documentos e de provas arqueológicas.

Interpretações comparadas, na área da linguística, com os textos sagrados Hindus – os Rig Veda -, sugerem que a sua emergência tenha ocorrido entre 1200 – 1500 AC.

As noções de paraíso e inferno, de luta entre o bem e o mal, de dia do julgamento final e da revelação, de livre escolha, de messianismo, de anjos e demónios, foram ensinamentos de Zaratustra, o fundador do Zoroastrismo e profeta da vitória da verdade, em nome do deus Ahura Mazda.

O que se sabe, de facto, sobre esta religião encontra-se na coleção de hinos Gathas, constantes dos textos do Avesta – o seu livro sagrado -, que sobreviveram de uma única cópia produzida no período do Império Sassânida (224-651), o último Império Persa pré-islâmico.

Ciro, o Grande, primeiro rei da Pérsia e o libertador dos escravos da Babilónia (539 a.C), decretou – mediante registo num cilindro de argila, em escrita cuneiforme e em língua acádica - a liberdade de escolha religiosa e estabeleceu a igualdade de etnias.

Conhecido hoje como o Cilindro de Ciro, foi reconhecido, há poucos anos, como a primeira carta dos direitos humanos, sendo que os quatro primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU) são idênticos aos estipulados no referido Cilindro.

É de referir que os Judeus foram diretos beneficiários desta libertação, por lhes ter proporcionado o muito desejado regresso do exílio para Jerusalém.

O Judaísmo pós-exílio deixou-se influenciar favoravelmente pela filosofia Zoroastrista, o que, mais tarde, favoreceu, também, uma abertura a outros sistemas de crenças Ibraímicas.

Muitos são os fatores que – não nos compete, aqui, enunciar – contribuíram, ao longo dos séculos, para a redução drástica dos seus crentes e praticantes do Zoroastrismo.



O seu lastro filosófico, contudo, é de importância maior, em particular para o mundo moderno ocidental: Assim Falava Zaratrusta, tratado de filosofia de Friedrich Nietzsche (1885), e o poema sinfónico com o mesmo título [Op. 30] e nele inspirado, de Richard Strauss (1896) são dois grandiosos exemplos dessa poderosa influência.

Na atualidade, existem, ainda, dois grupos de Zoroastristas: Os Iranianos e os - não por acaso - designados Parsis; os primeiros ainda residentes no Irão e os segundos, maioritariamente, na Índia, tendo, também, alguns destes emigrado para o Ocidente.


Sobre o Confucionismo, a filosofia sem deus, e o Maometanismo – o mesmo que Islamismo - poderemos ocupar-nos em breves textos futuros.


Ana Madureira
Biblioteca da Ajuda

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