Exposição Arte Médica e Imagem do Corpo: de Hipócrates ao final do século XVIII.










Exposição patente na BNP até 31 de Julho, entre as 13h00 e as 19h00, nos dias úteis, e entre as 10h00 e as 17h00, aos sábados.

Mostra que se pretende representativa do riquíssimo acervo da BNP e da Biblioteca da Ajuda. De facto, na selecção dos títulos houve a preocupação de evidenciar as obras de referência, que marcaram dois milénios de história da medicina. Assim, estarão patentes ao público obras das figuras mais eminentes que se ocuparam da arte médica. Numa sequência que combina a articulação temática e a progressão histórica, poder-se-ão apreciar livros da autoria de, nomeadamente, Hipócrates, Galeno, Avicena, Averróis, Pedro Hispano, Mondino, Vesálio, Francisco Sanches, Harvey, Borelli, Boerhaave, Stahl, Ribeiro Sanches, Pinel.

Apresentam-se obras raras, algumas das quais praticamente desconhecidas. Refira-se, a título exemplificativo, a “Physionomia” de Rolando de Lisboa, um médico filho de mãe portuguesa, que exerceu a arte e foi professor na Universidade de Paris no século XV. Este título, de que ainda não existe versão impressa, representa o primeiro esforço de conferir à Fisiognomia o estatuto de uma ciência. A Fisiognomia consiste no intento de estabelecer correspondências exactas entre o interior e a aparência exterior, de modo a apreender na expressão corporal os sentimentos íntimos e as disposições morais da pessoa em causa.

O catálogo, de mais de 650 páginas, constituirá um valioso instrumento de trabalho para as novas gerações de investigadores. Aí se encontra não apenas uma listagem de obras, da BNP e Biblioteca da Ajuda, mas também sugestões de percursos e articulações.

A concepção da exposição inscreve-se numa estratégia de olhar para a medicina como expressão de cultura. Efectivamente, a medicina é uma ciência, uma arte, um dispositivo técnico, mas é também uma ética, um modo peculiar de relação, uma via de auto-compreensão do humano.

O visitante não será certamente indiferente à beleza de muitas das obras manuscritas e impressas apresentadas. Mas pretendeu-se igualmente criar uma ambiência reflexiva, confrontar o público com questões que dizem respeito à própria condição humana. De facto, a ciência e a arte médicas intentam explicar, controlar e reparar a doença. Mas o fenómeno do adoecer permanece largamente enigmático, suscitando as mais fundas perplexidades. O ser humano saudável é um doente que se desconhece? Faz sentido a utopia de erradicar a doença da espécie humana?

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