JORNADAS EUROPEIAS DO PATRIMÓNIO 2009 (JEP/09)

ViVER O PATRIMÓNIO / PATRIMÓNIO VIVO
“A Biblioteca da Ajuda: vida interna e extensão cultural"

Uma instituição é o produto da sua história Esta afirmação é mais verdadeira ainda quando se trata de uma biblioteca ou arquivo cuja missão é a conservação da memória bibliográfica e documental.
Por outro lado, a memória institucional é preservada nos arquivos administrativos dos organismos do Estado e empresas, activos ou “mortos”, principalmente sob a forma documental. Numa biblioteca, cujo acervo inclui uma considerável massa documental (documentos manuscritos e folhetos dos sécs XVI ao XX), além dos óbvios livros, o seu arquivo interno confunde-se e sobrepõe-se muitas vezes ao seu objecto e objectivo: a guarda de um determinado corpus bibliográfico e documental, visando a sua projecção física no futuro e a sua “abertura” ao público.

O caso da (Real) Biblioteca da Ajuda é, neste aspecto como em tantos outros, um caso exemplar. Com uma colecção cujo desenvolvimento não é uma prioridade, o impulso de conservação predomina tornando-se a continuidade um vector direccional evidente. Os catálogos – forma mais acabada das listagens de existências – e os inventários são instrumentos de pesquisa fundamentais e são a expressão de um dos trabalhos biblioteconómicos que mais tempo consomem na economia da gestão desta instituição. O arquivo administrativo, testemunha do passado da colecção e das instalações, é propriamente um arquivo histórico, sendo muitos dos elementos que o compõem fontes primárias para a escrita da história do país.

Na mostra de hoje, a BA apresenta-se através do seu arquivo interno. Expondo-se com os objectos, os documentos e as figurações do seu passado recente (desde a instalação neste edifício), a BA presta também uma HOMENAGEM plural:
- à continuidade que tece o presente no tear do tempo, numa trama cujo princípio se perde nos acidentes e peripécias que determinaram a forma da sua evolução;
- à certeza, diariamente afirmada nos gestos da rotina, de que o presente se ilumina e é iluminada pelo passado;
- a todas as iniciativas culturais, promovidas pelas diversas Direcções da BA, que trouxeram a público a diversidade e riqueza dos seus fundos;
- ao envolvimento com o contexto histórico, nos seus bons e maus momentos, reflectindo-se aquele nas mudanças de natureza e estratégias de funcionamento;
- às gerações de funcionários que nos antecederam e que diária e anonimamente construiram a BA que temos hoje. Sob as mais diversas designações - praticante e amanuense ou administrativo, “official bibliothecário” ou técnico superior de BAD, servente e contínuo ou auxiliar, conservador ou técnico de restauro e conservação preventiva, ... – puseram ao serviço desta instituição e do seu público o seu saber técnico e empenhamento.

Comemoramos, com muitos outros marcos do património arquitectónico nacional, o PATRIMÓNIO VIVO, a memória tornada presente vivido. Celebramos a vida do património através da exibição da sua vida passada testemunhada nos objectos e documentos que partilharam essa vida e que “arrumamos” sob o nome de “Arquivo Interno”, normalmente “escondido” da vista dos leitores.

A mostra está organizada em 2 grandes núcleos complementados com um expositor introdutório. Nesta INTRODUÇÃO encontram-se imagens que estimulam a reconstituição subjectiva do acidentado passado da Real Biblioteca até à sua instalação na Ajuda. O visitante encontra também aqui representações gráficas do aspecto anterior do complexo edificado do Paço Real da Ajuda (a “biblioteca velha”).
A lista dos Directores e respectivos períodos de gerência inclui Alexandre Herculano, embora este seja a excepção nesse grupo já que não chegou a trabalhar nas actuais instalações. No entanto, a sua actuação como ‘Bibliothecario das Reais Bibliotecas’ foi pautada por um trabalho notável em prol da dignificação, organização e desenvolvimento dos fundos à guarda da Real Biblioteca da Ajuda, considerando prioritário para estes objectivos a construção de instalações próprias e a separação clara das bibliotecas particulares dos reis relativamente às Livrarias Reais (Mafra, Ajuda e Necessidades, na época em que A. H. inicia funções). Destacamos na lista de Directores 4 nomes que quer pela sua projecção sócio-cultural ou apenas pela sua actuação na gestão da BA concretizaram de forma paradigmática a dupla vocação da instituição: preservar e divulgar o património à sua guarda.

“A Vida Quotidiana”
Constituído por objectos e documentos que testemunham o trabalho exaustivo e permanente de “pistar” todas as existências, o permanente contar-recontar-conferir-“reconferir” que alicerça o trabalho técnico nesta biblioteca, consegue perceber-se não só o percurso evolutivo dos verbetes, inventários, catálogos, fichas bibliográficas, etc., como também adivinhar o trabalho diário de décadas consecutivas. Tutelada por diversas entidades ao longo do tempo e enquadrada no aparelho de Estado, os procedimentos administrativos e as diferentes formas que assumiram são peças fundamentais que não poderíamos deixar de exemplificar na sua diferença dos actuais (“Ofícios”, termos de posse, recibos de entregas e empréstimos,...) Os Directores e os (sempre poucos) funcionários são o motor da evolução da instituição, tematizando-se esta nos relatórios, propostas e registos da actividade diária (“diários”, “lembranças”, fotos;...); os leitores - razão da existência da BA – constituem um grupo que tem mudado os seus limites ao longo do tempo e com ele o conceito, tarefas e localização da Sala de Leitura. Esta evolução de um público (muito) restrito ao grande público actual é perceptível através dos mecanismos de registo destas actividades e dos próprios Regulamentos. E porque uma biblioteca vive e cresce nas tarefas diárias, nos gestos repetidos, na relação estabelecida entre livros-pessoas-organizações, os objectos de guarda e transporte de documentos, os modelos administrativos de comunicação, os estacionários, entre muitos outros, são uma aproximação a esta existência diária.

“A Produção Cultural e a projecção externa da BA”
Exposição dos documentos que atestam a permanente preocupação das diversas Direcções na promoção dos fundos da BA. Acompanhando as características que tipificaram historicamente o acesso à BA e se articulam com a variação da sua natureza e tutela (“Real”, “pública” e “patrimonial”, situação actual resultante da integração da BA na BNP), comprova-se uma alternância entre 2 grandes tipos de actividades culturais: a publicação de fontes e a promoção ou participação de /em exposições. A estes dois tipos mais ou menos duradouros, juntamos as visitas que pontuam a excepcionalidade no dia-a-dia da BA. A comprovação da participação da BA nos grandes acontecimentos culturais nacionais (as comemorações do centenário das invasões francesas, as comemorações do IV centenário do Rio de Janeiro, a exposição nacional da Expansão Portuguesa,..), com particular relevância a partir do final da década de 50, fecha esta mostra encontrando-se com o presente. A relevância dessas produções culturais do passado é indiciada pelas notícias nos jornais, pelos nomes-pessoas nos Livros de Visitantes e pelos diplomas que distinguem a BA.

Com esta participação nas JEP 2009 – à semelhança do que tem acontecido nos últimos anos – a BA reafirma o compromisso, assumido também pelas gerências que precederam a actual, de se manter uma instituição patrimonial viva, participante do momento histórico em que vive e que se revê na continuidade da sua sinuosa história testemunhada pelo importante núcleo que é o seu “Arquivo Interno”.

“VIVER O PATRIMÓNIO / PATRIMÓNIO VIVO”

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