Obra da Biblioteca da Ajuda na Biblioteca Nacional de Portugal

Sob a chama da candeia
Francisco de Holanda e os seus livros
EXPOSIÇÃO | 15 nov.’ 18 - 16 fev. '19 | Sala de Exposições – Piso 2 | Entrada livre


Francisco de Holanda (Lisboa, ca 1518-1584) é mais do que apenas um iluminador. Adquiriu, desde jovem, uma visão global do mundo, observando o seu pai, António de Holanda, a iluminar os planisférios e as cartas náuticas de Lopo Homem.  Possuidor de uma sólida formação humanista adquirida na corte do rei de Portugal, D. João III, aventurou-se no mundo das ideias, o que é raro entre os chamados «mecânicos» das artes visuais. Francisco de Holanda foi sobretudo um criador, capaz de repensar cada tema, através da análise das suas fontes primordiais... (mais aqui) 


Da fabrica que faleçe ha Çidade de Lysboa. … De quanto serve a Sciência  do Desegno e entendimento da Arte da Pintura, na Republica Christam asi na Paz como na guerra /  Francisco de Holanda, Monte [?]: Julho 1571.
BA 52-XII-24

Cod. Ms., em papel, [49 fls.], 29 desenhos a sépia. Enc. de origem em carneira, filetes de enquadramento a dourado, letras a ouro nas pastas + DA Fabrica+ (ant.), + DE LIXBOA+ (post.).

Inclui [fl. 1v] autógrafo de Frei Bartolomeu Ferreira, censor da inquisição, datado de 13 de Abril de 1576, no qual consta a censura sobre as obras que contém o ms.

 
Original autógrafo, único tratado de Francisco de Holanda existente em Portugal. Manuscrito, enviado ao Rei D. Sebastião, incitando-o a prosseguir o programa de construção na capital portuguesa concebido por seu avô o Rei D. João III, sendo um dos primeiros projectos de renovação de Lisboa, à luz dos ideais estéticos do renascimento, incluindo renovações em palácios, igrejas, fortificações a par com obras de utilidade pública como pontes, fontes e aquedutos de água: «Lisboa [...] onde todos os que bebem água, não tem mais de um estreito chafariz para tanta gente [...] e deve de trazer a Lisboa Água Livre que de duas léguas dela trouxeram os Romanos, por condutas debaixo da terra, subterrâneos furando muitos montes e com muito gasto e trabalho.»




 


 



Consta do Catálogo dos Manuscritos da Coroa: Ciências e Arte / Luís dos Santos Marrocos BA 49-IX-44 o que significa que foi com a família Real para o Brasil em 1807 e com a mesma voltou em 1821...

Questionário de satisfação dos utilizadores 2018


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"Fazer Gazeta" (2): O terramoto



O terramoto, seguido de maremoto e incêndios vários, teve início cerca das 9h40m do dia 1 de Novembro de 1755,  dia de todos os Santos "Festum Omnium Sanctorum" fazendo um elevado número de mortos...
 
A escassez de notícias referentes ao "memorável" acontecimento em Lisboa, na Gazeta, leva-nos a supor que as oficinas em que laboravam, na Rua Nova dos Ferros situada na baixa da cidade e uma das mais importantes artérias da cidade, tenha sido bastante afetada pelo terramoto...
 
n.º 46, 13/11/1755
N.º 45, 6/11/1755












Enquanto que em Portugal, pelo menos no caso de Lisboa pois o Algarve mereceu destaque diferente, as notícias foram dadas com parcimónia, já em frança a Gazette dedicou-lhe algum espaço...


Gazette de France n.º 47, 22/11/1755
Gazette de France n.º 47, 22/11/1755






    
 







"Fazer Gazeta" (1)

Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves:

“Fazer gazeta”

Inicialmente, com o sentido de «faltar às aulas», a expressão usa-se hoje quando se falta a qualquer compromisso ou obrigação.

«Gazeta» foi, de facto, a primeira designação dada aos periódicos.

‘Gazzetta‘ (de início: gaxeta) era uma pequena moeda de reduzido valor (due soldi), o custo exato de cada exemplar da Gazzette delle Novità, periódico semanal manuscrito, de pequeno formato, vendido em Veneza no séc. XVI, contendo notícias oficiais sobre a situação do império turco.

Curiosamente, há também quem afirme que o termo provém de “gazza”, em português: pega, a ave palradora.

As primeiras «gazetas» não eram redigidas por jornalistas profissionais, obviamente, no sentido de pessoas inteiramente dedicadas à sua composição.

Escreviam-nas aqueles que tinham capacidades e conhecimento para o fazer, mas que ganhavam a vida noutras profissões. Muitas vezes, por necessidade de ultimarem a saída das publicações, tinham de faltar aos seus ofícios para irem «fazer gazeta». Habitualmente, essas faltas consistiam na ausência às aulas, atendendo a que seriam, muito provavelmente, estudantes os primeiros «jonalistas».

A Gazeta de Lisboa, um dos primeiros periódicos a circular em Portugal, teve início a 17 de Agosto de 1715



No dia 10 de Agosto, o jornal apresentava o seu primeiro número com a denominação de "José Freire de Monterroio Mascarenhas, que dirigiu o jornal até à sua morte, em 1760.
Notícias do Estado do Mundo". O seu redactor era

BA. 170-III-172







Em 17 de Agosto de 1715, o número dois aparecia já com o título de "Gazeta de Lisboa", título que se manteve até 30 de Dezembro de 1717. e esteve na génese do jornal do governo,
hoje - e desde 1976 - designado Diário da República.

BA. 170-I-172 (1)
 

 Anteriores a esta, refira-se a existência da Gazeta da Restauração (1641-47) e a circulação das folhas periódicas “Relações” e “Mercúrios”.



[Mercúrio Português com as novas da guerra entre Portugal e Castela - Foi director e redactor António de Sousa de Macedo, considerado como o primeiro jornalista português. Lisboa, na Of. de  Henrique Valente de Oliveira, [fl.164?-167?]. Anos de 1663 a 1666 e Julho de 1667]



BA. 170-II-173





Lançada a 10 de setembro de 1808, no Rio de Janeiro, a Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro periódico impresso no Brasil, sob a égide de D. João VI e marca o início da imprensa no país. O jornal era publicado duas vezes  por semana (quartas-feiras e sábados) e o seu conteúdo era oficial, consistindo basicamente em comunicados do governo. Com a Independência a publicação da Gazeta do Rio, denominação corrente a partir de 29/12/1821,  tem o seu término com a edição nº 157, de 31 de dezembro de 1822.  Com a independência, a Gazeta deixou de circular tendo sido substituída pelo Diário Fluminense, de Pedro I e o Diário do Governo, de Pedro II.



Gazeta n.º 1, 10 de Set. 1808
Gazeta n.º 2, 17 de Set. 1808

Nur al-Din Ibn Ishaq Al-Bitruji (N.???? – M.c.1204)

Conhecido no Ocidente por Alpetragius, latinização do seu nome, nasceu em Marrocos. Fixou-se em Sevilha (Isbilah) onde desenvolveu os seus estudos, e foi, muito possivelmente, discípulo do filósofo e sábio Ibn Ṭufayl.

Al-Bitruji foi um dos mais importantes astrónomos do seu tempo, tendo a sua obra -'Kitab-al-Hay'ah - conhecido ampla divulgação e merecido reconhecimento na Europa entre os séculos XIII e XVI.

Primeiramente traduzida para Hebraico, por Mosheh ben Tibbon, em 1259, foi depois vertida desta língua para Latim, por Calo Calonymos, também tradutor de Averroes, com edições impressas em Viena e Veneza, no ano de 1528.

Nessa obra, Alpetragius, enunciou - sem êxito, inicialmente, mas reconhecida como alternativa válida - uma teoria que ultrapassava as dificuldades físicas inerentes ao modelo geométrico de Ptolomeu, pois seguira rigorosamente o princípio aristotélico, logo, também, homocêntrica, de movimento perfeito e circular, posteriormente “corrigida” e assumida como órbita elíptica.

Na primeira metade do séc. XX, como homenagem ao astrónomo e filósofo, foi atribuído o nome de Alpetragius a uma cratera da lua, com as seguintes coordenadas: Lat: 16.0°S, Long: 4.5°W, Diam: 39 km, Prof: 3.9 km.

A Biblioteca da Ajuda possui, incorporado na sua rica coleção de cimélios, um dos capítulos da obra 'Kitab-al-Hay'ah, cuja consulta e leitura recomendamos
.


          


ALPETRÁGIO [Aber Ishãq Al- Bitruyi]

Alpetragii Arabi planetarvm theorica


 Lucantonio Giunti
phisicis rationibus probata, nuperrime latinis litteris mandata a Calo Calonymos Ebreo Neapolitano / Alpetragius Arabus

Veneza: Luceantonii lunte Florentinianno; [1531]

27, [1] f. ; 2.º. marca de imp. 

 
 BA. CIM. 50-XV-4, n.º 4



Dia Mundial dos Correios: Os "itinerários"

Neste Dia Mundial dos Correios, 9 de Outubro, a Biblioteca da Ajuda lembra os "itinerários". Criados como 'livros práticos' para os viajantes - profissionais, como a posta ordinária e os 'enviados', ou de lazer e complemento educativo do fidalgo a partir do séc. 17 – o exemplar mais antigo que a BA possui à guarda é o
Memorial ou abecedário de los mas principales camiños de España. Ordenado por Alonso de Meneses correo. Va por abecedário, como por la tabla se vera. Com el camiño de Madrid a Roma. Va añadido al cabo el Repositorio de las cue[n]tas reduzidos los escudos a como su Magestad manda valgan. – Impresso en Toledo : en casa de Juan de Ayala. Año de M. D.L. VIII. BA. 17-IV-43

Este modelo impresso, indicando primeiro os caminhos regularmente utilizados pela posta tendo por público-alvo os viajantes não profissionais, é complementado com informações sobre câmbios e advertências sobre o tipo de caminho.
 
 
 
 
 



No séc. XVIII, época de viagens e passeios, o conhecimento necessário aos viajantes inclui já as distâncias em quadros, os locais de mudança e descanso de cavalos, os caminhos de carruagem ou de cavalo, informações geográficas mínimas antecedendo os guias e índices e/ou resumos dos caminhos.
BA. 21-V-36
BA. 21-V-35

 Itinerario Español o Guia de caminos.
 


Madrid, 1767
Alcalá, 1798



















O sentido de livro prático e necessário está patente no exemplar de um guia português do fim do séc. XVIII, cuja organização interna – capítulo para caminhos de Portugal, outro para Portugal e Espanha, outro ainda para as principais cortes da Europa – demonstra uma síntese de experiência anterior e evolução tipográfica. Comum a todos a sua pequena dimensão, isto é, a forma adapta-se ao conteúdo, sendo advertido num deles que foi voluntariamente que se não escreveu mais para não ficar um volume difícil de transporter.

GUIA DE VIAJANTES ou roteiro de Lisboa para as Cortes e cidades principaes da Europa, villas, e lugares mais notaveis de Portugal, e Hespanha. Lx.: Of. Francisco Luiz Ameno, 1791. – BA. 21-V-4
 Aos correios – a posta ordinária, "os próprios" - viajantes profissionais mais antigos, devemos o conhecimento de "experiência feito" que permitiu pela partilha de informações a criação dos itinerários realistas e pragmáticos que proliferam na Europa do séc. XVIII e constituem os antepassados dos "Guias de Viajem" actuais.