Há cerca de 300 anos, o público leitor inglês do the London post, or Heatcote's intelligence –
do nº 125 ao nº 289 inclusivé – foi surpreendido com a publicação de um
folhetim, em fascículos, que falava sobre as aventuras de um náufrago e da sua
luta pela sobrevivência numa ilha. Chamava-se
The life and aventures of Robinson Crusoe [BA. 64-II-11], e
teve a primeira edição completa em 25 de Abril de 1719, seguindo-se nesse ano
mais duas edições em 2 volumes. Este sucesso editorial, à época, manteve-se
durante todo o séc. XIX e foi ampliado pelo número de traduções, mais ou menos
fieis ao texto original, numa enorme diversidade de línguas, que fizeram desta
obra uma das mais publicadas e traduzidas em língua inglesa. O seu apelo
funda-se não só na narrativa, pontuada de aventuras num contexto estranho e
maravilhoso, como no seu protagonista, homem comum que por 1 "acidente da
vida", um naufrágio, se encontra num ambiente hostil onde a história da
sua sobrevivência é também uma alegoria para o seu crescimento interior. Uma
jornada dramática que reflete muito dos ideais e valores que estruturam a nossa
consciência atual.
Inicialmente, o protagonista foi identificado como o seu
Autor, o que levou a que muitos leitores o julgassem um relato biográfico de
eventos reais, veracidade esta acrescida pelo realismo topográfico e narrativo
que fundamentam a longevidade da obra. A biografia de Daniel Defoe, o autor
nascido Daniel Foe, foi ela própria um factor de adesão à obra. Jornalista,
panfletista, periodista são-lhe atribuídos mais de 500 textos de carácter
sócio-político e crítico, além da direcção e redacção do periódico Review. Com uma vida de mercador
pontuada por problemas financeiros e políticos foi "salvo" da prisão
em 2 ocasiões através de troca de favores, mantendo uma presença crítica
'audível' na sociedade londrina do final de seiscentos e início de setecentos.
A Biblioteca da Ajuda possui ainda a tradução francesa, de 1809, de Aimé-Ambroise Feutry [BA. 73-IV-38, 39], cujo Prefácio ecoa já o êxito do original (havia, pelo menos, 3 traduções francesas já publicadas) quase 100 anos e todo o 'naturalismo' francês depois. É, aliás, no Émile de Rousseau que o tradutor encontra um dos mais poderosos argumentos para empreender uma tradução de um livro aparentemente dirigido aos jovens e que, por isso, não seria editorialmente rentável. Nesta tradução foi já incluído, como complemento, o relato do naufrágio e sobrevivência de Alexander Selkirk numa Ilha do Pacífico, que poderá ter estado na origem da trama de Robinson Crusoe. E é com o fim deste prefácio que celebramos a perenidade de um romance:
A Biblioteca da Ajuda possui ainda a tradução francesa, de 1809, de Aimé-Ambroise Feutry [BA. 73-IV-38, 39], cujo Prefácio ecoa já o êxito do original (havia, pelo menos, 3 traduções francesas já publicadas) quase 100 anos e todo o 'naturalismo' francês depois. É, aliás, no Émile de Rousseau que o tradutor encontra um dos mais poderosos argumentos para empreender uma tradução de um livro aparentemente dirigido aos jovens e que, por isso, não seria editorialmente rentável. Nesta tradução foi já incluído, como complemento, o relato do naufrágio e sobrevivência de Alexander Selkirk numa Ilha do Pacífico, que poderá ter estado na origem da trama de Robinson Crusoe. E é com o fim deste prefácio que celebramos a perenidade de um romance:
"Le but (…) est de faire voir que, dans quelqu' état horrible & désespéré qu'on soit réduit, on peut encore se former une sorte de bonheur avec du courage et de la constance." (Op. cit., Pt. I, p. X)