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Depois de ter passado mais de 200 anos adormecida na Biblioteca da Ajuda, a partitura da ópera Armida, do compositor Josef Myslivececk, ganha vida hoje e amanhã com a Orquestra Metropolitana de Lisboa.
Estreia moderna da ópera Armida, cuja partitura manuscrita se encontra na Biblioteca da Ajuda e que terá lugar hoje e amanhã (22 e 23 de Maio), às 21h., no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém. A direcção musical é de João Paulo Santos, a encenação cabe a Luca Aprea e os figurinos são da autoria de José António Tenente
Nascido em Praga numa próspera família que se dedicava à moagem de cereais, Myslivecek frequentou o curso de Filosofia antes de se dedicar à música a tempo inteiro. Em 1763 viajou para Veneza a fim de estudar com Giovanni Pescetti e em 1771 era admitido na prestigiada Academia Filarmónica de Bolonha, cidade onde conheceu o jovem Mozart e o seu pai, Leopold Mozart, que descreve Myslivecek numa das suas cartas como uma personalidade “plena de fogo, espírito e vida”. Mozart chegou a apropriar-se de vários motivos musicais de Myslivecek nas suas obras, sendo o caso mais emblemático o arranjo da ária Il caro mio bene, precisamente da ópera Armida, transformada através de um novo texto na famosa canção Ridente la calma, KV 152 (K. 210a).
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(...) Detentora de uma imponente colecção a Biblioteca da Ajuda é também o principal repositório das óperas de Myslivecek, contando com 16 dos seus títulos. No entanto, não há notícia de nenhuma delas ter sido representada em Lisboa. O maestro João Paulo Santos levanta a hipótese de terem sido enviadas pelo próprio compositor como “uma espécie de curriculum vitae, na expectativa de uma possível contratação pela corte portuguesa, que tinha a justa fama de pagar avultadas somas aos seus músicos”. Um exemplo recente era o de Jommelli, falecido em 1774, beneficiário de um vantajoso contrato com a corte de D. José. É um cenário plausível, mas as partituras de Myslivecek poderiam também facilmente ter chegado à capital portuguesa no âmbito da regular aquisição de música pela Casa Real, processo nesta época supervisionado pela Rainha D. Maria I, conforme fica claro na correspondência trocada entre o director dos teatros reais e os embaixadores em Itália, que se guarda na Torre do Tombo. Por exemplo nas missivas enviadas nos inícios da década de 1780 a D. Diogo de Noronha, ministro plenipotenciário em Roma, são solicitadas oratórias, cantatas, serenatas, óperas e música sacra e é igualmente registada a chegada das partituras a Lisboa. “Recebi por via de João Piaggio [Cônsul em Génova] o Caixote da Muzica, que V. Exa. mandou, a qual passando logo ao poder de Suas Altezas a examinaram com a sua costumada curiosidade”, escreve o director dos teatros reais em 19 de Março de 1783.
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