Considerado um dos mais importantes
nomes da literatura portuguesa contemporânea - para muitos o mais importante nome - Herberto Hélder, foi
poeta, “o poeta dos poetas”, (mas assumindo-se sobretudo como autor: «sou o
Autor, diz o Autor», que celebra o acto enunciativo como gesto criador), e
tradutor, tendo reescrito para português poesia ameríndia e de povos africanos. Foi editor, repórter e redactor.
Viajante (fugitivo?) na juventude, itinerou
pela Europa (do Norte), viveu clandestino, exerceu as mais diversas profissões,
regressou. Ao longo da vida, soube, como ninguém, conquistar e merecer o seu
direito à privacidade e tranquilidade, recusando qualquer manifestação de
vaidade e glória públicas. Quis o silêncio da palavra escrita.
Herberto Hélder deixa-nos uma obra
de génio, incomparável, que atravessa, fazendo confluir, géneros literários; a
palavra atinge dimensões anteriormente por explorar, desconhecidas, únicas.
A sua obra poética encontra-se,
desde 1973, reunida nas sucessivas edições de Poesia Toda, definindo o
autor a sua obra: “o poema é um objecto carregado de poderes magníficos,
terríveis: [...] promove uma desordem e uma ordem que situam o mundo num ponto
extremo: o mundo acaba e começa»,
Está traduzido e publicado em
vários países, dos quais se destacam Itália, Grã-Bretanha, Espanha, França.
Esta biblioteca homenageia o Poeta,
transcrevendo um dos seus poemas.
Sentimos o privilégio de ter Herberto
Hélder nas nossas vidas.
Sobre um Poema
Um
poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
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Bibliografia
O
amor em visita, 1958
A
colher na boca, 1961
Poemacto, 1961
Lugar, 1962
Os
passos em volta, 1963;2006
Electronicolírica, 1964
Humus
: poema-montagem , 1967
Ofício
cantante: 1953-1963 (antologia), 1967
Retrato
em movimento, 1967
Apresentação
do rosto, 1968
O
bebedor nocturno: versões, 1968 ;2013
Vocação
animal, 1971
Poesia
toda, 1973 ; 1996
Cobra, 1977
O
corpo, o luxo, a obra, 1978
Photomaton
& Vox, 1979 ; 2006
Flash, 1980
A
cabeça entre as mãos, 1982
Última
ciência, 1988
Os
selos, 1990
Do
mundo, 1994
Doze
nós numa corda 1997
Ouolof , 1997
Poemas
ameríndios, 1997
Ou
o poema contínuo, 2004
Servidões, 2013
A
morte sem mestre, 2014