SANTO ANTÓNIO DE LISBOA

PNA, Inv n.º 56769

Santo António: perfil biográfico

Nascido Fernando Martins Bulhões, em Lisboa a 15 de Agosto de 1195 (data oficial, com investigadores a defenderem o seu nascimento entre 1191 e 1195), morreu em Pádua, em 1231. Entre estes dois pontos da Europa, a sua vida percorreu a França e a Itália, com uma pequena estadia em Marrocos, sendo assim definido como "peregrino". Afastada a vida do século que lhe estaria destinada pela família, entra na Ordem dos Regrantes de Santo Agostinho em S. Vicente de Fora [dos muros da cidade], sob cuja orientação já teria estudado na escola episcopal e muda-se para Santa Cruz de Coimbra para aprofundar a sua vocação religiosa e conhecimentos escolásticos. Entra em contacto com a religiosidade franciscana e em 1221 participa no Capítulo geral desta ordem, o último com a presença do fundador, S. Francisco de Assis. É por este destinado à evangelização e pregação e a sua fama de orador arrasta multidões pelas várias cidades de Itália e França onde passa, vindo a ser provincial e a estar envolvido na reforma dos estatutos da Ordem. Morre de doença em 1231 e em 1232 é canonizado, em 30 de maio, pelo papa Gregório IX, em cerimónia na Catedral de Espoleto. Após a canonização é erigida a Basílica de Santo António para onde os seus ossos foram trasladados.

Santo António na coleção da Biblioteca da Ajuda (BA):

1 - Crónica de Nuremberga

A popularidade de Santo António, manifesta em múltiplos locais onde a sua fama se instalou ou foi levada (caso do Brasil) através de elementos da cultura e religiosidade popular, além do número de igrejas sob a sua invocação, constroem uma tradição de um pregador do povo, homem erudito mas ao mesmo tempo místico, um santo para as grandes e as pequenas dificuldades da vida humana.

Liber Chronicarum, incunábulo impresso na Alemanha e vulgarmente conhecido por "Crónica de Nuremberga", publicado pela primeira vez em latim, em 12 de junho de 1493, com edição traduzida para o alemão, por Georg Alt (ou Georgium Alten, em latim), logo a partir de 23 de dezembro deste mesmo ano e que é a origem do outro nome por que é conhecida esta obra: Die Schedelsche Weltchronik, isto é,  A História do Mundo de [Hartmann] Schedel.  

Trata-se do maior livro ilustrado de sua época, com cerca de 1800 xilogravuras e 645 blocos de gravação, produzidos a partir dos desenhos de Michael Wolgemut e do seu genro, Wilhelm Pleydenwurff em cuja famosa oficina Albrecht Dürer trabalhou como aprendiz ao tempo da execução destas ilustrações.

Seu autor é Hartmann Schedel (1440-1514), médico de Nuremberga, humanista e um dos pioneiros da cartografia impressa. Compilou inúmeras fontes antigas e contemporâneas para promover uma "proto-enciclopédia" que, com base no modelo bíblico – as 7 idades do mundo, difundiu o conhecimento geográfico e do desenvolvimento da história humana conhecido à época. A BA integra 3 exemplares deste incunábulo extraordinário na sua colecção.


Na VI IDADE do MUNDO – a atual e que ocupa a maior parte da obra - era dos grandes fundadores da igreja, encontramos Santo António, nascido em Lisboa e morto em Pádua. O registo da sua biografia ali contido, releva a qualidade e versatilidade da sua pregação em várias línguas e o seu périplo pela Europa que levou o Papa XXXX a confirmá-lo como peregrino. A ambiguidade da sua pertença geográfica – Lisboa ou Pádua – é já instalada neste escrito do séc. XV intitulando-o de "Santo António de Pádua", devido ao local da sua pregação, mas iniciando o texto com a localização precisa em "Lisboa", nas Espanhas, do seu nascimento. É ainda relevada a sua pertença e caracter fundacional da Ordo Minorum, razão que explica a sua representação em trajes franciscanos.

2. A Trezena de Santo António

Outro testemunho do Santo e da sua importância na colecção da BA é dado pela encadernação de 1 obra que lhe é dedicada em 2 edições de anos diversos mas significativos. Assim:

Os cultos de devoção, e obséquios, que se dedicão ao Thaumaturgo portuguez S.to António de Lisboa em os dias da sua nova Trezena offerecidos à Magestade Fidelíssima de D. Jose I ... (BA 101-III-66)

Esta versão de 1787, por Simão Thadeu Ferreira, coincide com a reabertura em 15 de Maio da igreja de Santo António ao culto, pós- restauro. Este pequeno livro terá sido impresso para um ofício com presença real, muito próximo da data desta reabertura pública

BA 101-III-66
101-III-66

Os cultos de devoção, e obséquios, que se dedicão ao Thaumaturgo portuguez S.to António de Lisboa em os dias da sua nova Trezena offerecidos a sua Alteza Real O Príncipe Regente Nosso Senhor... (BA 101-III-67)

Este segundo exemplar, de 1828, dedicado ao futuro Rei D. João (VI) invoca o patrocínio real a este santo e a sua devoção como um farol para os seus vassalos.

BA-101-III-67
101-III-67

Ambos os exemplares apresentam uma encadernação dourada, profusamente decorada com motivos fitomórficos ostentando ao centro o brasão real português sob coroa fechada.

No exemplar 2 o brasão de armas é articulado com o brasão da família Bulhões, sendo única esta junção. O brasão dos Bulhões aparece em vários ornamentos da Igreja de Santo António de Lisboa e em pintura do teto. 

De Lisboa por nascimento, formação e juventude; de Pádua por local mais assíduo de pregação e, principalmente, como local da morte. Ambas as cidades lhe prestam homenagem e reverência em igrejas quase tão antigas como o Santo na sua fundação e protegidas e reconstruídas pelo povo delas e pelos reis: a Igreja de Santo António em Lisboa e a Basílica de Santo António emPádua.

Para saber mais:

Santo António no Gabinete de Estudos Olisiponenses: aqui 

Santo Antonio de Lisboa (biografia site oficial): aqui

MFG@BA

AVISO: Biblioteca da Ajuda encerrada

Informamos os nossos leitores que, devido a Cerimónias oficiais que irão de correr no Palácio da Ajuda, a Biblioteca da Ajuda encerra nos dias 5 e 6 de Junho pp. 

Na segunda-feira será retomado o horário regular.

Agradecemos a compreensão dos nossos leitores

Dia Internacional da Criança:


Neste dia a Biblioteca da Ajuda dá a conhecer aquela que poderá ser considerada uma obra-prima da literatura infantil e das artes da ilustração, les Contes de Perrault

PERRAULT, Charles, 1628-1703 ; STAHL, P.-J., 1814-1886 ; CLAYE, Jules, 1806-1886 (88?) ; DORÉ, Gustave , 1832-1883 ; Biblioteca Real (Lisboa) - Les Contes de Perrault . Paris : J. Hetzel, libraire-éditeur , M DCCC LXIV [1864] : [J. Claye, Imprimeur]). 1 vol. (XXIV-62 p.)

BA. 125-II-14




Esta obra conjunta, apesar dos seus autores Charles Perrault e Gustave Doré, terem vivido em épocas diferentes, é o exemplo de como a escrita e a arte visual se conjugaram para criar uma edição, a todos os títulos, imponente.

A Charles Perrault (1828-1703), devemos a transposição para a escrita das histórias que, ainda hoje, fazem parte do imaginário infantil, e a Gustave Doré (1832-1883), as ilustrações que deram vida aos textos.


Perrault, apesar de ser formado em leis e ter sido assistente de Colbert, foi considerado o “pai da literatura infantil”, na medida em que consolidou, através da escrita, contos assentes na tradição popular oral. 

Os fins pedagógico e moral que os mesmos encerravam, transformaram-nos em manuais preciosos para a educação das crianças, uma vez que aliavam ao entretenimento um fim moral, refletindo os valores e receios da sociedade de então.

A obra mais conhecida deste autor, Histórias ou Contos do Tempo Passado com Moralidades ou Contos da Mãe Gansa, inclui contos sobejamente conhecidos, tais como a Bela adormecida, Cinderela, o Gato das botas, o Pequeno Polegar, entre outros.


Doré, por seu lado, foi um dos mais produtivos ilustradores franceses do seu século, destacando-se por criar imagens muito expressivas e dramáticas que com o seu estilo detalhado e impressivo, influenciou gerações de artistas,  continuando a ser admirado pela sua capacidade de traduzir as palavras e emoções, em imagens. 




Para a excelência da obra da BA que agora apresentamos muito contribuiu o talento de ambos, um que eternizou pela escrita um acervo oral, o outro que através de imagens, recriou o universo onírico do imaginário popular para o mundo encantado das crianças:

Era uma vez:

   A Bela adormecida



Cinderela












                                                                                                
                O Polegarzinho                                                                                       O Gato das Botas



DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA 2025

A Biblioteca da Ajuda (BA), na qualidade de Biblioteca Patrimonial, desempenha um papel essencial na preservação e enriquecimento do conhecimento sobre e da língua portuguesa. O seu valor não se resume apenas à conservação dos livros antigos e/ou raros, mas também à manutenção da memória histórica e cultural que molda a evolução da língua.

Gramática da Língua portuguesa de João de Barros (1496-1570), impressa em Lisboa em 1540, embora seja historicamente a segunda – a 1ª de Fernão de Oliveira, de 1535 – é considerada como pioneira na sistematização da língua portuguesa moderna sendo a base de outras que a continuaram.

                                    










Neste caminho do estudo da origem e evolução da língua portuguesa lembramos o Vocabulário da Língua Portugueza, de Bluteau, ainda hoje um recurso importante para a compreensão histórica da "viagem cronológica das palavras" e um marco no estudo sistemático do português do séc. XVIII. Versão digital através da BND: aqui

A globalização da língua portuguesa teve o seu apogeu na era dos Descobrimentos, em que o contacto com outros povos tornou premente a comunicação verbal para expandir o cristianismo e o comércio, originando os primeiros dicionários da língua portuguesa face a outras línguas não europeias de que a BA guarda uma memória alargada na sua coleção:




RODRIGUES, João (P.)

 Arte breve da lingooa Japoa tirada da arte grande da mesma lingoa para os que começam a aprender os primeiros principios d’ella / João Rodriguez Amacao: no Colegio da Madre de Deus da Comp. de Jesu, 1620 4.°. — Enc.em perg. — Pert.: Bibl. Nec 
Cim. 50-XI-3

DIAS, Pedro (D.)

 Arte da lingua de Angola / Dom Pedro Dias 
Lisboa: na officina de Miguel Deslandes, 1697 
8.°. — Pert.: Col. Nobres 

Cim. 50-VIII-19






Em suma, são estes e outros tantos exemplos que se conservam no acervo da BA e que são fundamentais não só para manter a língua viva e em constante evolução, como instrumento de comunicação mas também como um reflexo da história e da cultura dos povos que a utilizam, nos seus diferentes contextos.



CPB &FG@BA

Aviso: leitura encerrada no dia 6 de Maio a partir das 13h00

Informamos os nossos leitores que, devido ao lançamento da obra de Teresa Leonor M. Vale Entre Roma e Lisboa no Século XVIII: Trânsitos e permanências, o serviço de leitura da Biblioteca da Ajuda encerra às 13h00.

Agradecemos a compreensão dos nossos leitores


Convite para lançamento de livro: 6 de Maio, 18h00

Será uma honra contar com a presença de todos que queiram estar presentes neste dia em que, fruto de pesquisas apuradas com base em fontes primárias, muitas delas fazendo parte do acervo da Biblioteca da Ajuda, se dá "voz" à História através da obra Entre Roma e Lisboa no Século XVIII: Trânsitos e permanências de Teresa Leonor M. Vale.