ALEXANDRE HERCULANO: no dia do seu aniversário, 28 de Março





Lembramos hoje A. Herculano (1810-1877), no dia do seu aniversário, evocando os aspetos da sua biobibliografia que o associam à Biblioteca da Ajuda, a qual, juntamente com a Livraria da Casa das Necessidades (C.O.), constituíram o foco do seu trabalho em Lisboa, entre 1839 e a sua morte em 1877, no exercício da função de Bibliotecário-Mor com casa de função atribuída no largo da patriarcal nova sobranceira à fachada N do (atual) Palácio da Ajuda.


                             

Casa de Bibliotecário-mor (1.º edifício) e da Biblioteca do Paço velho, no largo da Patriarcal nova

Associado desde cedo à causa liberal é por ela exilado em Inglaterra e França (onde frequenta a biblioteca de Rennes) entre 1831 e 1832 e, ao lado de D. Pedro IV, reentra com os vencedores da batalha de Arnoso de Pampolide, no Porto, integrando o grupo que ficou conhecido como "Os bravos do Mindelo".

É ainda D. Pedro IV que o retira da frente de batalha no Cerco do Porto e o encarrega de apoiar o bibliotecário do paço episcopal na reorganização dessa biblioteca, convertendo-a na futura Biblioteca Pública do Porto. Para este efeito jura a Carta Constitucional e, em 1836 com o fortalecimento de fações liberais de esquerda que culminam no "Setembrismo", Herculano vem para Lisboa dirigir a revista "O Panorama" (1837-1868), cuja instituição e manutenção são patrocinadas por D. Maria II. 

Em 1839, o rei D. Fernando II convida-o para Bibliotecário-Mor das bibliotecas régias (Ajuda e Necessidades) e estreita a sua ligação à Casa Real.

 

O seu progressivo afastamento da vida política e consequente dedicação aos estudos históricos e literários, mantendo o "desejável" afastamento da vida social, permitem-lhe empreender a tarefa pela qual ainda hoje é destacado: o desenvolvimento de uma história crítica, fundada em documentos os quais são resgatados ao seu sono histórico nos arquivos religiosos do país. Por transcrição ou recolha, são recuperados para o futuro milhares de documentos, muitos deles publicados no Portugal Monumentaa Historiae,  bem como na preparação da sua inovadora História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, III vols.. Enquanto Real Bibliotecário, A. Herculano lançou-se na reorganização da Biblioteca Real, dividida entre os Paços da Ajuda e das Necessidades, trocando exemplares duplicados com a Biblioteca de Berlim, estabelecendo a acomodação da mesma na Ajuda em edifício próprio e noticiando os documentos e obras antigas à guarda da Biblioteca Real. Simultaneamente, a sua escrita criativa/literária foi determinada por esta situação e são vários os exemplos que transportam alguns dos seus romances históricos à colecção da Real Biblioteca, como o Monasticon ou A Dama Pé-de-Cabra.

Retirado da cantiga n.º 233 do Cancioneiro da Ajuda

O Monge de Cister, Lisboa: Imp. Nacional 1848

BA 50-VIII-65

Versos retirados das cantiga n.º 283 e cantiga n.º 292 do Cancioneiro da Ajuda

O Monge de Cister, Lisboa: Imp. Nacional 1848

BA 50-VIII-65, p. 155







A sua incansável capacidade de trabalho e aptidões académicas revelam-se na Biblioteca da Ajuda ainda na identificação e transcrição / publicação da crónica de D. João III, na integração de 11 fólios da Biblioteca de Évora pertencentes ao Cancioneiro da Ajuda, etc.

Crónica de D. João III  [autógrafo] / Fr. Luís de Sousa 

BA. 50-V-33

Annaes de El-Rei dom João Terceiro / Frei Luís de Sousa; publicado por Alexandre Herculano em 1841

BA. 52-VII-15

      
O seu afastamento para o campo, com a aquisição da Quinta de Vale de Lobos (1856) e o casamento – em 1867 - com D. Mariana Hermínia Meira vão marcar a última década da sua vida dedicada à agricultura e mantendo a sua função como Bibliotecário-mor. Nesta função, os últimos anos são dominados pela defesa da independência física da Real Biblioteca, em casa própria conseguida pela requalificação da Biblioteca Velha, em sentido inverso ao desejo expresso por D. Luís e D. Carlos de integrar a biblioteca na ala nova do Paço da Ajuda (ordem régia de 1877). Em 1880, 3 anos depois da sua morte, D. Luís ordena a reorganização das primeiras 3 salas da ala norte para acolher a Biblioteca Real.

Em 1910, comemorou-se o centenário do seu nascimento. Desta data é a foto do historiador, oferecida à Biblioteca da Ajuda em 2011, pelo Embaixador António Luís Cotrim.

Sobre as comemorações do centenário do nascimento de Alexandre Herculano:

«Centenário do nascimento de Alexandre Herculano. Comemorações no Porto e em Lisboa, abril de 1910» in Ilustração Portuguesa, 2ª série, nº 220 de 9 maio 1910. Acesso através da Hemeroteca Digital em 19-03-2025 [aqui]

Ilustração Portuguesa, 2ª série, nº 215 de 4 abril 1910, p. 424. Acesso através da Hemeroteca Digital em 19-03-2025 [aqui]

 FG@BA

Dia Nacional do Estudante:

A Influência dos Intelectuais Oitocentistas na Educação Portuguesa

Nesta data tão significativa, 24 março 2025, Dia Nacional do Estudante, ocasião em que se reafirma a importância da educação e o papel dos estudantes na construção do presente e futuro, aproveitamos para recordar que a busca pela valorização do ensino e da cultura não é uma questão recente.

De 17 a 19 de maio de 1884, por iniciativa da Rainha Maria Pia, realizou-se a Kermesse da Tapada da Ajuda, festa de caridade a favor da Real Associação das Creches, fundada em 1875 pela monarca. Porém, mais do que apenas um evento de beneficência, que atraiu milhares de pessoas e da qual (…) resultaram (…) grandes proveitos (…), conforme refere Gervasio Lobato na  revista Occidente (V. abaixo), serviu também enquanto veículo para que um conjunto de intelectuais e pedagogos portugueses prestassem uma significativa homenagem à educação através da escrita de vários textos em verso e em prosa que formam um precioso álbum comemorativo (BA 52-XIV-8), recebido pela a Rainha Maria Pia nesta ocasião, e que atualmente integra o acervo da Biblioteca da Ajuda.

A referida obra, inclui textos autógrafos de figuras de destaque no pensamento e na pedagogia do século XIX, que contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento da educação e do conhecimento em Portugal como Pedro Venceslau de Brito Aranha (1833-1914), António Maria Afonso Vargas entre outros dos quais destacamos os mais relevantes:

João de Deus de Nogueira Ramos (1830-1896)

Figura central na reforma do ensino primário, destacou-se na educação, sobretudo pela criação da Cartilha Maternal, obra de natureza pedagógica, publicada em 1876, que serviu de base a um método inovador de ensino da leitura às crianças, que revolucionou a alfabetização infantil.




José Duarte Ramalho Ortigão (1836-1915)

Defensor de uma educação moderna e prática, destacou-se na educação em Portugal através da defesa de um ensino mais moderno e acessível. Em 1985 é nomeado Diretor da Biblioteca da Ajuda cargo que ocupa, até1910.

 



Joaquim Pinheiro Chagas (1842-1895)

Escritor, professor, jornalista e político,  dedicou-se ao ensino da literatura e da história, deixando um legado importante na educação humanística.

 


António Feliciano de Castilho (1800-1875)

Escritor e pedagogo, desempenhou um papel significativo na reforma do ensino no século XIX em Portugal.  Foi inventor de um método de ensino infantil da leitura, baseado na utilização de uma cartilha, que ficou conhecido como Método Castilho de leitura [aqui].



Luciano
 Baptista Cordeiro de Sousa (1844-1900)

Historiador e jornalista, lecionou Filosofia e Literatura no Colégio Militar entre 1871 e 1874. Em 1875, integrou a comissão responsável pela reforma do ensino artístico e organização dos museus nacionais. Fundou a Sociedade de Geografia de Lisboa em 1876, promovendo a investigação científica e educativa.

 Em suma, o Álbum de Autographos dedicado à Rainha Maria Pia, mais do que apenas um testemunho de um evento de beneficência, representa também um compromisso coletivo com a educação e com o progresso intelectual da sociedade portuguesa.

No Dia Nacional do Estudante, relembramos a importância da construção do conhecimento, enquanto legado partilhado entre gerações e essencial pilar para a evolução social e cultural.

Que o espírito destes intelectuais continue a inspirar a valorização da educação e do pensamento crítico!


Para saber mais:


Occidente: Revista illustrada de Portugal e do Extrangeiro, 21 de maio 1884, Volume VII, n.º 195 Acessível através da Hemeroteca Digital [aqui









TM@BA

No dia da Mulher evocamos uma figura feminina que se destacou no meio cultural português do seu tempo:

    D. Leonor de Almeida (1750-1839), Condessa de Oyenhausen, 4ª Marquesa de Alorna


D. Leonor de Almeida, futura 4ª Marquesa de Alorna, dama detentora de vasta cultura, que apurara nos tempos de cativeiro, por 14 anos, no Convento de Chelas[1], viveu todos os paradoxos e contradições de um tempo no qual era enaltecida a instrução feminina, pelos filósofos da Ilustração, mas que, em simultâneo, a sociedade condicionava a intervenção das mulheres no espaço público.

J.J. Rousseau (1712-1778) filósofo da ilustração que imprimira a sua visão progressista para um modelo de sociedade, igualitária, n´O Contrato Social, ou no Discours sur l´Origine, et les fondements de l´Inegalité des Hommes, entre outras obras, deixara, porém, na sua novela pedagógica, Emile ou de l´Education, um papel secundário para a personagem feminina, e não o da mulher na plenitude da sua afirmação individual. No obstante ser de leitura “suprimida”, pela Real Mesa Censória, as damas liam as obras do filósofo, como demonstra a correspondência de D. Teresa de Mello Breyner (1739-179?), (Tirse) outra mulher ilustrada da corte mariana, com D. Leonor, que, na resposta às cartas da amiga, apelida o genebrino de “Heroe desprezador de mulheres”, pela “pouca onra que elle faz ao nosso sexo”[2].

Este fora um período durante o qual a instrução feminina se difundira, essencialmente entre as elites, persistindo, no entanto, um grande desconhecimento sobre a criação literária de mulheres escritoras, pois o recurso à publicação anónima, ou debaixo de siglas, num compromisso entre o anonimato e a afirmação da identidade, foi um subterfúgio utilizado, já que, “ser autora de trabalho remunerado pareceria imodesto”[3], falta que nenhuma dama de sociedade quereria cometer.

Era nesse contexto complexo de fim do Antigo Regime que D. Leonor viveu. Sabemos que algumas mulheres liam, tinham as suas bibliotecas ou livrarias, e escreviam, porém, as suas obras, não eram editadas em nome próprio.

No que respeita a obra de D. Leonor diversas foram as fórmulas utilizadas para “esconder” a sua autora, apenas reconhecível entre o grupo restrito em que se movia. A própria comenta em carta, que dirige de Londres a sua sobrinha, em 1806, que a filha “Juliana também escreve duas regras para me pedir licença para imprimir as minhas obras!!! Como se isto me bastasse e que essa espécie de vaidade coubesse ainda no meu coração. Nunca escrevi com intenção d´imprimir (…)”[4].

A modéstia e o recato eram convenientes a uma dama se não quisesse ser acusada de pedantaria ou presunção, pecado maior para uma mulher. Escrever e publicar em nome próprio era, sobretudo, apanágio masculino, D. Leonor não escapou ao ar do tempo.

Só após a morte da já então Marquesa de Alorna as suas filhas publicariam, em 1844, a produção literária de sua mãe, quer a poesia e a prosa, quer as traduções, às quais a escritora se dedicara em diversas épocas (BA. 122-III-41 a 46).

As primeiras obras, impressas, de D. Leonor foram dedicadas à tradução, então considerada uma actividade “legítima”, para as damas, pois era uma tarefa que não significava a exposição pública de criatividade, ou individualidade, já que se apresentavam, quase sempre, por autora anónima ou, por vezes, debaixo das iniciais do seu pseudónimo artístico. Não deixavam, porém, de indiciar a presença de alguém que dominava diversos idiomas, desde logo o latim, bem como o inglês, o francês, e conhecimentos da língua alemã. Neste capítulo, destacam-se, seguindo Vanda Anastácio as traduções de Chateaubriand

 



De Buonaparte e dos Bourbons, de 1814 (BA. 154-II-10, nº 17), da Paráfrase dos Salmos, em duas partes, em 1817 e em 1833, ou o Ensaio sobre a indiferença em matéria de religião, de Lamennais, em 1820, e ainda as obras de caracter didático-científico como As Recreações Botânicas, ou a Arte Poética de Horácio e do Essay on Criticism de Pope[5].

Oberon, poema de Wieland, Tomo I, Paris, 1802. 
A obra apresenta-se sem autoria da tradução, os quatro primeiros cantos que traduziu do alemão. BA. 63-III-61

Parafrase a varios psalmos. - Lisboa : na Impressão Regia, 1817. - 44 p. ; 8º (16 cm). - Por D. Leonor de Almeida Portugal segundo a bibliografia. - Marca de impressor: Impressão Régia , no rosto. BA.154-II-6, nº 7 


Alorna, Marquesa de, 1750-1839

Paraphrase dos Salmos em vulgar, Lisboa, 1833
Prova de que Alcipe domina a língua latina
BA. 61-IV-55









A tradução da obra de J.J. Rousseau Cartas sobre os elementos de Botânica, que localizamos na BA, “traduzidas da língua inglesa por huma senhora desta corte”, conforme surge na folha de rosto, faz-nos suspeitar da presença de D. Leonor, sem que o possamos afirmar com plenitude de segurança. Não deixamos, no entanto, de a apresentar, pois trata-se da tradução de obra interdita, de um autor que D. Leonor lera, dedicada a uma matéria que tanto prezava, como comprovam as suas Recreações Botânicas e quem senão Alcipe estaria em condição de o fazer na corte portuguesa?

Cartas sobre os elementos de Botanica, por J. J. Rousseau de Thomaz Martyn (quarta edição) traduzidas da língua inglesa por huma Senhora desta corte, Lisboa, na Typographia Chalcografica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego, 1801. BA 33-IV-45.

A obra completa de D. Leonor de Almeida seria editada postumamente por suas filhas, cuja recompilação nos ajuda agora a conhecer um conjunto significativo de obra de sua autoria bem como as traduções a que se dedicou, sendo, no entanto, provável que nem tudo quanto Alcipe escreveu esteja contemplado naqueles volumes, pois muita da produção poética passava manuscrita nos salões literários que frequentava.

O Marquês de Bombelles, Embaixador de França, entre 1786-1788, deixa-lhe os maiores elogios no Diário[6] que redige da sua passagem por Portugal, levantando um pouco o véu sobre o grau de desembaraço e cultura das damas que frequentavam os salões aristocráticos tardo-setecentistas. Sobre “Mme d´Oyenhausen” deixa escrito que durante o jantar em sua casa “elle s´est montée au ton de la poésie et nous a fait grand plaisir en improvisant dans une langue qui n´est la sienne. Elle nous a aussi récité des vers d´une grande beauté (…)”.

Sabendo quanto eram parcos em elogios os visitantes estrangeiros sobre o grau de cultura das elites em Portugal, este testemunho não deixa de ser eloquente sobre os méritos que recaiam sobre a escritora que agora quisemos evocar.

 M.M.B.@BA


[1] MARQUEZ de ÁVILA E BOLAMA, A Marqueza d´Alorna, Lisboa, 1916, p. 21.

[2] BELLO VÁSQUEZ, Raquel, Uma certa ambiçaõ de gloria. Trajectória, redes e estratégias de Teresa de Mello Breyner nos campos intelectual e do poder em Portugal (1770-1798), tese de Doutoramento, Universidade de Santiago de Compostela, Janeiro, 2005. Disponível aqui

[3] LEHNER, Ulrich, Women, Enlightenment and Catholicism, Routledge, 2018, p. 2.

[4] ANASTÁCIO, Vanda, “Cherchez la femme (À propôs d´une forme de sociabilité litteraire à Lisbonne à la fin du XVIIIème siècle)”. Arquivos do Centro Cultural Português, vol. XLIX, Centre Culturel C. Gulbenkian, 2005, pp. 93-101.

[5] Ver ANASTÁCIO, VANDA, “Mulheres varonis e interesses domésticos” (Reflexões acerca do discurso produzido pela História Literária acerca das mulheres escritoras da viragem do século XVIII para o século XIX), Cartographies, Lisboa, 2005, pp. 537-556.

[6] BOMBELLES, Marquis de, Journal d´un Ambassadeur de France au Portugal 1786-1788, Fondation Calouste Gulbenkian, Paris, 1979.

Abolição do estado de escravidão em Portugal

A 25 de Fevereiro de 1869, D. Luís I  decreta que " Fica abolido o estado de escravidão em todos os territorios da monarchia Portugueza desde o dia da publicação do presente decreto...."  (legislação régia [aqui]).

Esta importante medida foi antecedida de muitas outras tomadas ao longo dos tempos, por diferentes monarcas, cuja mais antiga remonta a D. Sebastião através do diploma de 20 de março de 1570 - Lei sobre a liberdade dos gentios [no Brasil]- , transcrito por Francisco Adolfo de Varnhagen, na sua obra História Geral do Brasil, Secção XX, p. 322 [aqui].

Destacam-se, ainda, neste percurso a actividade legislativa ao tempo de D. José I que, pelo alvará de 19/09/1761, proibe o transporte dos escravos pretos de ambos os sexos, trazidos dos portos da América, África e Ásia, para os portos do reino de Portugal e Algarve, com aplicação de penas.

JOSÉ I, 1714-1777, Rei de Portugal

Portugal. Leis, decretos, etc. (1761, Setembro, 19) ;

 Chancelaria-mor do Reino - [Alvará com força de ley, porque Vossa Magestade he servido prohibir, que se possam carregar, nem transportar escravos pretos de hum, e outro sexo dos pórtos da America, Africa, e Asia, para os destes reinos de Portugal, e dos Algarves...]. [Lisboa] : impresso na Chancellaria mór da Corte, e Reino, [1761]. 4 p.


BA 96-VIII-40, p. 42-43

Vide versão manuscrita: Torre do Tombo, Leis e ordenações, Leis, mç. 6, n.º 4


Em 1773, é publicado Alvará que pretende obviar,  "... ao impio e desumano abuso, com que no Reino do Algarve, e em algumas provincias de Portugal se procuráram perpetuar os captiveiros..." e terminar, de forma gradual, a escravidão em Portugal


JOSÉ I, 1714-1777, Rei de Portugal

Portugal. Leis, decretos, etc. (1773, Janeiro 16) 


 Portugal. Leis, decretos, etc. ; Biblioteca das Necessidades (Lisboa) - Collecçaõ das leys, decretos, e alvarás, que comprehende o feliz reinado Del Rey Fidelissimo D. Jozé o I nosso Senhor, desde o anno de 1761 até o de 1769 [1770] : tomo II-[III]. Lisboa : na officina de Miguel Rodrigues, impressor do Eminentissimo Cardial Patriarca , 1770-[1773]. 1 v.


BA 96-VIII-37, p. 263-265


                         



                                                             






A história é feita de factos e um deles é que a escravatura, condição de submeter uma pessoa à vontade de outra privando-a da sua liberdade, foi prática generalizada, desde as primeiras civilizações, a que Portugal não se pode eximir apesar de, ao longo dos tempos, ter tido legislação atenta à matéria.

Dia da Fundação Nacional do Japão: 11 de Fevereiro

Comemora-se amanhã o dia nacional do Japão, nação com a qual mantemos relações diretas e institucionais há mais de 480 anos, manifestas em múltiplas peças do acervo do Palácio Nacional da Ajuda e destacadas nos exemplares bibliográficos e documentais da coleção à guarda da Biblioteca da Ajuda. Este ano de 2025, assinalaremos a data com a receção, nos dois espaços acima, de uma comitiva científica japonesa que nos honra com a sua visita particularmente sentida neste dia de simbólica importância para o japão.

Na Biblioteca, preparamos-lhe uma pequena mostra de grandes exemplares representativos das áreas da nossa colecção. Assim:


Da col. de cimélios (livros raros) selecionámos a primeira gramática da língua Japonesa em Português, "Arte breve da lingoa Iapoa" impressa em Macau, com a “prensa Japonesa” (Cim. 50-XI-3).

Facsímile, edição bilingue, com trad. japonesa de Hino Hiroshi (BA. 245-IV-2)





Da col. de diplomática selecionámos Carta do imperador Mutsuhito atribuindo a D. Luís I, a Insígnia correspondente ao Grande Colar (col. PNA) da Suprema Ordem do Crisântemo. (Ms. av. 54-XI-13, n.º 17 e 17a).





Da col. de manuscritos, apresentaremos a primeira descrição do Japão incluída no cód. 49-IV-49, fls. 28-30, o primeiro vol. da col. “Jesuítas na Ásia” e, a cópia setecentista, do Primeiro dicionário japonês/latim/português (46-XIII-11).

Da col. de cartografia foi escolhido um atlas histórico e geográfico que se baseia em gravuras japonesas originais, existentes na europa, além das informações habituais à época, séc. 17, neste tipo de álbuns (BA: 13-X-14).

Além destes deixamos o link para as imagens do álbum de fotografia “Views of Japan” disponível na plataforma Matrizpix [aqui]

cpb&fg@ba

Episódios da história da Biblioteca da Ajuda

Sabia que em 20 de Janeiro de 1912 foi oficialmente decretada a reabertura da Biblioteca da Ajuda após o encerramento determinado pelo Inventário Judicial do Paço da Ajuda (que decorreu entre 1911 e 1913).

Esta 'reabertura', publicada por Decreto do Ministério do Interior, no "Diário de Governo" de 2 de fevereiro de 1912, foi fundamentada na necessidade de tornar acessível a colecção à sua guarda, à época de cerca de 80.000 volumes, "aos estudiosos" que dela necessitam. Por outro lado, é destacada a natureza especial da biblioteca que passa a estar integrada nas "Bibliotecas Eruditas e Arquivos".

A operacionalização desta abertura decretada da Biblioteca acontece realmente a 13 de fevereiro de 1912, mas com um conjunto de limitações decorrentes do arrolamento judicial dos bens do Paço da Ajuda que continuava a ser executado. O auto lavrado da entrega da Biblioteca da Ajuda à Inspecção das Bibliotecas Eruditas e Arquivos – que a delegou nos funcionários já identificados da nova instituição – releva essas limitações do seu funcionamento diário:

"(…) entrega ao mencionado official bibliographo [Jordão Apolinário de Freitas], mas só para o effeito dos seus subordinados e elle trabalharem n'ella, no sentido dito, de preparar trabalho para o arrolamento, e não para ella ser aberta ao público."

Sobre a história diária desta abertura, contada na primeira pessoa, num contexto de enormes alterações político-administrativas, damos aqui conta de um ofício de Jordão de Freitas, Oficial Bibliógrafo (com responsabilidades de direcção), que acentua a necessidade desta Biblioteca para a investigação e, por isso, a sua abertura efetiva ao público:

Doc. nº NN , fl. NN:  Of. Nº 4 – rascunho ms. – 6 de Julho de 1912

De: Biblioteca da Ajuda- ass. Jordão de Freitas; Para: Inspector das Bibliothecas Eruditas e Arquivos [Júlio Dantas]

Resposta ao ofício nº 303. "(…) infelizmente, e sob pena de assumir a responsabilidade de um conflicto de jurisdição com o Sr. Juiz Arrolador dos bens mobiliários existentes no Paço d'Ajuda, me acho inhibido de cumprir as ordens de V. Ex.ª.

As condições em que este magistrado [Juiz Arrolador] me fez a entrega desta Biblioteca no dia 13 de Fevereiro do ano corrente e de que imediatamente dei conhecimento ao Inspector Interior, antecessor de V. Ex.ª, impõem-me a obrigação, entre outras, de não fazer sair, nem permitir a saída de, qualquer volume desta Biblioteca sem autorização ou ordem delle;  a qual, por sua vez só pode ser dada / / depois de a haver recebido do Ministério da Justiça.

Em consequência de taes condições, os próprios estudiosos – em attenção aos quaes esta Bibliotheca foi mandada reabrir por Decreto de 20 de Janeiro último – não podem entrar neste estabelecimento sem iguaes formalidades." [Arq. Hist. BA, D-480, Correspondência, nº1, de Nov. 1905 a Dez. 1923].


Finalmente, em 17 de Fevereiro de 1913 - mais de um ano depois do Decreto que a determinou e apenas após a finalização do arrolamento judicial do Paço da Ajuda - a abertura ao público da BA aconteceu efetivamente, com regulamentação específica, e foi assim comunicada ao seu 'Director':

Doc. nº NN, fl. NN: Of. nº 202, L.º 4º - dactiloscrito de 10 de Fevereiro de 1913

De: "Secretaria Geral das Bibliotecas e Arquivos Nacionais" – O Inspector das Bibliotecas Eruditas e Arquivos (ass.) Júlio Dantas Para: Oficial-Bibliógrafo da Biblioteca da Ajuda [Jordão de Freitas]

" (…) digne-se V. Ex.ª promover as providencias julgadas indispensáveis para que, a partir do próximo dia 17 do corrente, a referida Biblioteca da Ajuda seja aberta á leitura pública, das 10 às 16 horas, observando-se todas as determinações da legislação em vigor, e mais as seguintes instrucções aconselhadas pelas circunstâncias: 1º - o acesso do público será limitado à primeira sala da Biblioteca; 2º - Só serão fornecidas à consulta pública as espécies que, no último arrolamento, se verificou pertencerem ao Estado; 3º - Não se removerão do logar [sic] onde se encontram os objectos que ao Estado não pertençam; 4º - não serão levantados os selos apostos pelo digno juiz arrolador." [Arq. Hist. BA, D-480, Correspondência, nº1, de Nov. 1905 a Dez. 1923].

Começamos, assim, uma série de testemunhos documentais da vida pós-monárquica desta instituição que chegou até nós: a Biblioteca Pública da Ajuda, nascida em berço real emancipou-se republicanamente sem perder o seu estatuto "especial".


MFG@BA