24 de junho - Dia Internacional das Mulheres na Diplomacia:

Práticas e Representações Femininas na Diplomacia Europeia dos séculos XVIII a XX: Perspetivas Historiográficas e Testemunhos documentais da Biblioteca da Ajuda

Não quisemos passar a data sem relembramos a importância do contributo feminino nas relações internacionais ao longo da história. Frequentemente relegadas a um papel secundário na historiografia tradicional, diversas mulheres desempenharam funções cruciais na diplomacia mundial entre os séculos XVIII e XX, influenciando decisões políticas e promovendo o entendimento entre nações. 

No âmbito desta data tão significativa, destacamos três figuras históricas femininas entre inúmeras, que ao longo dos séculos, através do seu papel e influência no contexto diplomático, contribuíram significativamente para o desenvolvimento social, cultural e político da época em que viveram

                                                       Catarina II da Rússia (1729–1796)

Nascida em Stettin, Pomerânia, e filha do general prussiano Cristiano Augusto de AnhaltZerbst, governador da cidade, foi batizada como Sofia Frederica Augusta, tornando-se posteriormente, a czarina Catarina II que, ao longo de trinta e quatro anos, foi responsável pelo Império Russo, potenciando o legado do seu antecessor, Pedro, o Grande (1672-1725). Conhecida pela sua política expansionista, Catarina, a Grande, reforçou a posição da Rússia na Europa através de tratados e alianças estratégicas. O papel relevante desempenhado por Catarina II da Rússia na diplomacia europeia do séc. XVIII, pode ser confirmado em vários manuscritos pertencentes ao acervo da Biblioteca da Ajuda, conforme demonstram alguns dos exemplos dos quais destacamos:

1781, janeiro 18, Londres
Notícia [cópia de época] da abertura de um acordo entre Inglaterra e Holanda por mediação da Imperatriz da Rússia [Catarina II]. [em francês]
Ms. Av. 54-IX-13, n.º 43

54-IX-13, n.º 43, p.1
54-IX-13, n.º 43, p.2


54-IX-13, n.º 43, p.3


















                                                            D. Maria II (1819–1853)

Rainha de Portugal e dos Algarves, D. Maria II desempenhou um papel crucial na consolidação do regime constitucional em Portugal. A sua correspondência com monarcas europeus, como a Rainha Vitória do Reino Unido, revela uma atuação diplomática significativa na manutenção de relações internacionais durante o seu reinado. Internamente, a sua ação assertiva na busca da estabilidade do reino, desencadeou consideráveis expectativas por parte de muitos dos que exerciam funções adstritas à sua governação, conforme mostra uma carta datada de 09 de junho de 1847 de Edwin John Johnston, 
diplomata britânico destacado em Portugal, servindo como cônsul no Porto na sequência da Revolução 
da Maria da Fonte, dirigida ao Duque de Saldanha [1º, D. João Carlos de Saldanha] admirando-se de não ter até à data recebido qualquer informação quanto às intenções da Rainha [D. Maria II] para com os revoltosos “…a menos que algo tivesse acontecido ao vapor que trazia as notícias.” [tradução nossa]:

   
          BA 54-VI-9, n.º 11, fl. 2


                                                                               

BA 54-VI-9, n.º 11, fl. 2v-3


BA 54-VI-9, n.º 11, fl.3v-4


















BA 54-VI-9, n.º 11, fl. 4v-5















BA 54-VI-9, n.º 11, fl. 5v-6

BA 54-VI-9, n.º 11, fl. 6v-7



BA 54-VI-9, n.º 11, fl. 7v


















                                                                 D. Maria Pia de Saboia (1847–1911)

Rainha consorte de Portugal pelo casamento com D. Luís I, D. Maria Pia desenvolveu várias ações na área da diplomacia que reforçaram os laços entre Portugal e Itália, sua terra natal. Enquanto figura de "bastidores" atenta ao ambiente político-social que a rodeava, exerceu influência direta ou indiretamente em muitas das ações tomadas por D. Luís, alertando-o inclusive para o evoluir de potenciais ameaças à estabilidade interna do país, conforme é possível observar através do telegrama que enviou ao marido, datado de 13 maio de 1868, em cifra em francês e português, com a notícia de que “…as coisas estão do mais sérias…”, provavelmente referindo-se à crise político-social que culminou na chamada Janeirinha, revolta liberal que eclodiu em janeiro de 1868, assumindo particular intensidade a partir de maio desse ano.


                                                                                    BA 54-XIII-22, n.º 36


Em suma, as figuras históricas femininas que hoje destacamos, dentre tantas outras que poderíamos destacar, ilustram que a diplomacia transcende os tratados e atos oficiais predominantemente masculinos, integrando igualmente o contributo decisivo de mulheres cuja influência marcou a política internacional, frequentemente nos bastidores dos palácios e cortes. 

TM@BA

SANTO ANTÓNIO DE LISBOA

PNA, Inv n.º 56769

Santo António: perfil biográfico

Nascido Fernando Martins Bulhões, em Lisboa a 15 de Agosto de 1195 (data oficial, com investigadores a defenderem o seu nascimento entre 1191 e 1195), morreu em Pádua, em 1231. Entre estes dois pontos da Europa, a sua vida percorreu a França e a Itália, com uma pequena estadia em Marrocos, sendo assim definido como "peregrino". Afastada a vida do século que lhe estaria destinada pela família, entra na Ordem dos Regrantes de Santo Agostinho em S. Vicente de Fora [dos muros da cidade], sob cuja orientação já teria estudado na escola episcopal e muda-se para Santa Cruz de Coimbra para aprofundar a sua vocação religiosa e conhecimentos escolásticos. Entra em contacto com a religiosidade franciscana e em 1221 participa no Capítulo geral desta ordem, o último com a presença do fundador, S. Francisco de Assis. É por este destinado à evangelização e pregação e a sua fama de orador arrasta multidões pelas várias cidades de Itália e França onde passa, vindo a ser provincial e a estar envolvido na reforma dos estatutos da Ordem. Morre de doença em 1231 e em 1232 é canonizado, em 30 de maio, pelo papa Gregório IX, em cerimónia na Catedral de Espoleto. Após a canonização é erigida a Basílica de Santo António para onde os seus ossos foram trasladados.

Santo António na coleção da Biblioteca da Ajuda (BA):

1 - Crónica de Nuremberga

A popularidade de Santo António, manifesta em múltiplos locais onde a sua fama se instalou ou foi levada (caso do Brasil) através de elementos da cultura e religiosidade popular, além do número de igrejas sob a sua invocação, constroem uma tradição de um pregador do povo, homem erudito mas ao mesmo tempo místico, um santo para as grandes e as pequenas dificuldades da vida humana.

Liber Chronicarum, incunábulo impresso na Alemanha e vulgarmente conhecido por "Crónica de Nuremberga", publicado pela primeira vez em latim, em 12 de junho de 1493, com edição traduzida para o alemão, por Georg Alt (ou Georgium Alten, em latim), logo a partir de 23 de dezembro deste mesmo ano e que é a origem do outro nome por que é conhecida esta obra: Die Schedelsche Weltchronik, isto é,  A História do Mundo de [Hartmann] Schedel.  

Trata-se do maior livro ilustrado de sua época, com cerca de 1800 xilogravuras e 645 blocos de gravação, produzidos a partir dos desenhos de Michael Wolgemut e do seu genro, Wilhelm Pleydenwurff em cuja famosa oficina Albrecht Dürer trabalhou como aprendiz ao tempo da execução destas ilustrações.

Seu autor é Hartmann Schedel (1440-1514), médico de Nuremberga, humanista e um dos pioneiros da cartografia impressa. Compilou inúmeras fontes antigas e contemporâneas para promover uma "proto-enciclopédia" que, com base no modelo bíblico – as 7 idades do mundo, difundiu o conhecimento geográfico e do desenvolvimento da história humana conhecido à época. A BA integra 3 exemplares deste incunábulo extraordinário na sua colecção.


Na VI IDADE do MUNDO – a atual e que ocupa a maior parte da obra - era dos grandes fundadores da igreja, encontramos Santo António, nascido em Lisboa e morto em Pádua. O registo da sua biografia ali contido, releva a qualidade e versatilidade da sua pregação em várias línguas e o seu périplo pela Europa que levou o Papa XXXX a confirmá-lo como peregrino. A ambiguidade da sua pertença geográfica – Lisboa ou Pádua – é já instalada neste escrito do séc. XV intitulando-o de "Santo António de Pádua", devido ao local da sua pregação, mas iniciando o texto com a localização precisa em "Lisboa", nas Espanhas, do seu nascimento. É ainda relevada a sua pertença e caracter fundacional da Ordo Minorum, razão que explica a sua representação em trajes franciscanos.

2. A Trezena de Santo António

Outro testemunho do Santo e da sua importância na colecção da BA é dado pela encadernação de 1 obra que lhe é dedicada em 2 edições de anos diversos mas significativos. Assim:

Os cultos de devoção, e obséquios, que se dedicão ao Thaumaturgo portuguez S.to António de Lisboa em os dias da sua nova Trezena offerecidos à Magestade Fidelíssima de D. Jose I ... (BA 101-III-66)

Esta versão de 1787, por Simão Thadeu Ferreira, coincide com a reabertura em 15 de Maio da igreja de Santo António ao culto, pós- restauro. Este pequeno livro terá sido impresso para um ofício com presença real, muito próximo da data desta reabertura pública

BA 101-III-66
101-III-66

Os cultos de devoção, e obséquios, que se dedicão ao Thaumaturgo portuguez S.to António de Lisboa em os dias da sua nova Trezena offerecidos a sua Alteza Real O Príncipe Regente Nosso Senhor... (BA 101-III-67)

Este segundo exemplar, de 1828, dedicado ao futuro Rei D. João (VI) invoca o patrocínio real a este santo e a sua devoção como um farol para os seus vassalos.

BA-101-III-67
101-III-67

Ambos os exemplares apresentam uma encadernação dourada, profusamente decorada com motivos fitomórficos ostentando ao centro o brasão real português sob coroa fechada.

No exemplar 2 o brasão de armas é articulado com o brasão da família Bulhões, sendo única esta junção. O brasão dos Bulhões aparece em vários ornamentos da Igreja de Santo António de Lisboa e em pintura do teto. 

De Lisboa por nascimento, formação e juventude; de Pádua por local mais assíduo de pregação e, principalmente, como local da morte. Ambas as cidades lhe prestam homenagem e reverência em igrejas quase tão antigas como o Santo na sua fundação e protegidas e reconstruídas pelo povo delas e pelos reis: a Igreja de Santo António em Lisboa e a Basílica de Santo António emPádua.

Para saber mais:

Santo António no Gabinete de Estudos Olisiponenses: aqui 

Santo Antonio de Lisboa (biografia site oficial): aqui

MFG@BA

AVISO: Biblioteca da Ajuda encerrada

Informamos os nossos leitores que, devido a Cerimónias oficiais que irão de correr no Palácio da Ajuda, a Biblioteca da Ajuda encerra nos dias 5 e 6 de Junho pp. 

Na segunda-feira será retomado o horário regular.

Agradecemos a compreensão dos nossos leitores

Dia Internacional da Criança:


Neste dia a Biblioteca da Ajuda dá a conhecer aquela que poderá ser considerada uma obra-prima da literatura infantil e das artes da ilustração, les Contes de Perrault

PERRAULT, Charles, 1628-1703 ; STAHL, P.-J., 1814-1886 ; CLAYE, Jules, 1806-1886 (88?) ; DORÉ, Gustave , 1832-1883 ; Biblioteca Real (Lisboa) - Les Contes de Perrault . Paris : J. Hetzel, libraire-éditeur , M DCCC LXIV [1864] : [J. Claye, Imprimeur]). 1 vol. (XXIV-62 p.)

BA. 125-II-14




Esta obra conjunta, apesar dos seus autores Charles Perrault e Gustave Doré, terem vivido em épocas diferentes, é o exemplo de como a escrita e a arte visual se conjugaram para criar uma edição, a todos os títulos, imponente.

A Charles Perrault (1828-1703), devemos a transposição para a escrita das histórias que, ainda hoje, fazem parte do imaginário infantil, e a Gustave Doré (1832-1883), as ilustrações que deram vida aos textos.


Perrault, apesar de ser formado em leis e ter sido assistente de Colbert, foi considerado o “pai da literatura infantil”, na medida em que consolidou, através da escrita, contos assentes na tradição popular oral. 

Os fins pedagógico e moral que os mesmos encerravam, transformaram-nos em manuais preciosos para a educação das crianças, uma vez que aliavam ao entretenimento um fim moral, refletindo os valores e receios da sociedade de então.

A obra mais conhecida deste autor, Histórias ou Contos do Tempo Passado com Moralidades ou Contos da Mãe Gansa, inclui contos sobejamente conhecidos, tais como a Bela adormecida, Cinderela, o Gato das botas, o Pequeno Polegar, entre outros.


Doré, por seu lado, foi um dos mais produtivos ilustradores franceses do seu século, destacando-se por criar imagens muito expressivas e dramáticas que com o seu estilo detalhado e impressivo, influenciou gerações de artistas,  continuando a ser admirado pela sua capacidade de traduzir as palavras e emoções, em imagens. 




Para a excelência da obra da BA que agora apresentamos muito contribuiu o talento de ambos, um que eternizou pela escrita um acervo oral, o outro que através de imagens, recriou o universo onírico do imaginário popular para o mundo encantado das crianças:

Era uma vez:

   A Bela adormecida



Cinderela












                                                                                                
                O Polegarzinho                                                                                       O Gato das Botas



DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA 2025

A Biblioteca da Ajuda (BA), na qualidade de Biblioteca Patrimonial, desempenha um papel essencial na preservação e enriquecimento do conhecimento sobre e da língua portuguesa. O seu valor não se resume apenas à conservação dos livros antigos e/ou raros, mas também à manutenção da memória histórica e cultural que molda a evolução da língua.

Gramática da Língua portuguesa de João de Barros (1496-1570), impressa em Lisboa em 1540, embora seja historicamente a segunda – a 1ª de Fernão de Oliveira, de 1535 – é considerada como pioneira na sistematização da língua portuguesa moderna sendo a base de outras que a continuaram.

                                    










Neste caminho do estudo da origem e evolução da língua portuguesa lembramos o Vocabulário da Língua Portugueza, de Bluteau, ainda hoje um recurso importante para a compreensão histórica da "viagem cronológica das palavras" e um marco no estudo sistemático do português do séc. XVIII. Versão digital através da BND: aqui

A globalização da língua portuguesa teve o seu apogeu na era dos Descobrimentos, em que o contacto com outros povos tornou premente a comunicação verbal para expandir o cristianismo e o comércio, originando os primeiros dicionários da língua portuguesa face a outras línguas não europeias de que a BA guarda uma memória alargada na sua coleção:




RODRIGUES, João (P.)

 Arte breve da lingooa Japoa tirada da arte grande da mesma lingoa para os que começam a aprender os primeiros principios d’ella / João Rodriguez Amacao: no Colegio da Madre de Deus da Comp. de Jesu, 1620 4.°. — Enc.em perg. — Pert.: Bibl. Nec 
Cim. 50-XI-3

DIAS, Pedro (D.)

 Arte da lingua de Angola / Dom Pedro Dias 
Lisboa: na officina de Miguel Deslandes, 1697 
8.°. — Pert.: Col. Nobres 

Cim. 50-VIII-19






Em suma, são estes e outros tantos exemplos que se conservam no acervo da BA e que são fundamentais não só para manter a língua viva e em constante evolução, como instrumento de comunicação mas também como um reflexo da história e da cultura dos povos que a utilizam, nos seus diferentes contextos.



CPB &FG@BA

Aviso: leitura encerrada no dia 6 de Maio a partir das 13h00

Informamos os nossos leitores que, devido ao lançamento da obra de Teresa Leonor M. Vale Entre Roma e Lisboa no Século XVIII: Trânsitos e permanências, o serviço de leitura da Biblioteca da Ajuda encerra às 13h00.

Agradecemos a compreensão dos nossos leitores


Convite para lançamento de livro: 6 de Maio, 18h00

Será uma honra contar com a presença de todos que queiram estar presentes neste dia em que, fruto de pesquisas apuradas com base em fontes primárias, muitas delas fazendo parte do acervo da Biblioteca da Ajuda, se dá "voz" à História através da obra Entre Roma e Lisboa no Século XVIII: Trânsitos e permanências de Teresa Leonor M. Vale.


"Diversidade é Património"

Recebemos com muita satisfação um grupo de visitantes especialmente interessado em conhecer os tesouros bibliográficos que pertenciam à Real Biblioteca Particular, hoje Biblioteca da Ajuda. Foi um momento de troca de experiências muito enriquecedor e gratificante. 









Aviso: Leitura encerrada

 Informamos os nosso leitores que, devido à preparação e realização de um evento interno nesta Biblioteca, o serviço de leitura estará encerrado a partir das 13h00, no dia 31 de Março (segunda-feira).

O horário regular será retomado no dia 1 de Abril (terça-feira).

 Agradecemos a compreensão dos nossos leitores

ALEXANDRE HERCULANO: no dia do seu aniversário, 28 de Março





Lembramos hoje A. Herculano (1810-1877), no dia do seu aniversário, evocando os aspetos da sua biobibliografia que o associam à Biblioteca da Ajuda, a qual, juntamente com a Livraria da Casa das Necessidades (C.O.), constituíram o foco do seu trabalho em Lisboa, entre 1839 e a sua morte em 1877, no exercício da função de Bibliotecário-Mor com casa de função atribuída no largo da patriarcal nova sobranceira à fachada N do (atual) Palácio da Ajuda.


                             

Casa de Bibliotecário-mor (1.º edifício) e da Biblioteca do Paço velho, no largo da Patriarcal nova

Associado desde cedo à causa liberal é por ela exilado em Inglaterra e França (onde frequenta a biblioteca de Rennes) entre 1831 e 1832 e, ao lado de D. Pedro IV, reentra com os vencedores da batalha de Arnoso de Pampolide, no Porto, integrando o grupo que ficou conhecido como "Os bravos do Mindelo".

É ainda D. Pedro IV que o retira da frente de batalha no Cerco do Porto e o encarrega de apoiar o bibliotecário do paço episcopal na reorganização dessa biblioteca, convertendo-a na futura Biblioteca Pública do Porto. Para este efeito jura a Carta Constitucional e, em 1836 com o fortalecimento de fações liberais de esquerda que culminam no "Setembrismo", Herculano vem para Lisboa dirigir a revista "O Panorama" (1837-1868), cuja instituição e manutenção são patrocinadas por D. Maria II. 

Em 1839, o rei D. Fernando II convida-o para Bibliotecário-Mor das bibliotecas régias (Ajuda e Necessidades) e estreita a sua ligação à Casa Real.

 

O seu progressivo afastamento da vida política e consequente dedicação aos estudos históricos e literários, mantendo o "desejável" afastamento da vida social, permitem-lhe empreender a tarefa pela qual ainda hoje é destacado: o desenvolvimento de uma história crítica, fundada em documentos os quais são resgatados ao seu sono histórico nos arquivos religiosos do país. Por transcrição ou recolha, são recuperados para o futuro milhares de documentos, muitos deles publicados no Portugal Monumentaa Historiae,  bem como na preparação da sua inovadora História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, III vols.. Enquanto Real Bibliotecário, A. Herculano lançou-se na reorganização da Biblioteca Real, dividida entre os Paços da Ajuda e das Necessidades, trocando exemplares duplicados com a Biblioteca de Berlim, estabelecendo a acomodação da mesma na Ajuda em edifício próprio e noticiando os documentos e obras antigas à guarda da Biblioteca Real. Simultaneamente, a sua escrita criativa/literária foi determinada por esta situação e são vários os exemplos que transportam alguns dos seus romances históricos à colecção da Real Biblioteca, como o Monasticon ou A Dama Pé-de-Cabra.

Retirado da cantiga n.º 233 do Cancioneiro da Ajuda

O Monge de Cister, Lisboa: Imp. Nacional 1848

BA 50-VIII-65

Versos retirados das cantiga n.º 283 e cantiga n.º 292 do Cancioneiro da Ajuda

O Monge de Cister, Lisboa: Imp. Nacional 1848

BA 50-VIII-65, p. 155







A sua incansável capacidade de trabalho e aptidões académicas revelam-se na Biblioteca da Ajuda ainda na identificação e transcrição / publicação da crónica de D. João III, na integração de 11 fólios da Biblioteca de Évora pertencentes ao Cancioneiro da Ajuda, etc.

Crónica de D. João III  [autógrafo] / Fr. Luís de Sousa 

BA. 50-V-33

Annaes de El-Rei dom João Terceiro / Frei Luís de Sousa; publicado por Alexandre Herculano em 1841

BA. 52-VII-15

      
O seu afastamento para o campo, com a aquisição da Quinta de Vale de Lobos (1856) e o casamento – em 1867 - com D. Mariana Hermínia Meira vão marcar a última década da sua vida dedicada à agricultura e mantendo a sua função como Bibliotecário-mor. Nesta função, os últimos anos são dominados pela defesa da independência física da Real Biblioteca, em casa própria conseguida pela requalificação da Biblioteca Velha, em sentido inverso ao desejo expresso por D. Luís e D. Carlos de integrar a biblioteca na ala nova do Paço da Ajuda (ordem régia de 1877). Em 1880, 3 anos depois da sua morte, D. Luís ordena a reorganização das primeiras 3 salas da ala norte para acolher a Biblioteca Real.

Em 1910, comemorou-se o centenário do seu nascimento. Desta data é a foto do historiador, oferecida à Biblioteca da Ajuda em 2011, pelo Embaixador António Luís Cotrim.

Sobre as comemorações do centenário do nascimento de Alexandre Herculano:

«Centenário do nascimento de Alexandre Herculano. Comemorações no Porto e em Lisboa, abril de 1910» in Ilustração Portuguesa, 2ª série, nº 220 de 9 maio 1910. Acesso através da Hemeroteca Digital em 19-03-2025 [aqui]

Ilustração Portuguesa, 2ª série, nº 215 de 4 abril 1910, p. 424. Acesso através da Hemeroteca Digital em 19-03-2025 [aqui]

 FG@BA

Dia Nacional do Estudante:

A Influência dos Intelectuais Oitocentistas na Educação Portuguesa

Nesta data tão significativa, 24 março 2025, Dia Nacional do Estudante, ocasião em que se reafirma a importância da educação e o papel dos estudantes na construção do presente e futuro, aproveitamos para recordar que a busca pela valorização do ensino e da cultura não é uma questão recente.

De 17 a 19 de maio de 1884, por iniciativa da Rainha Maria Pia, realizou-se a Kermesse da Tapada da Ajuda, festa de caridade a favor da Real Associação das Creches, fundada em 1875 pela monarca. Porém, mais do que apenas um evento de beneficência, que atraiu milhares de pessoas e da qual (…) resultaram (…) grandes proveitos (…), conforme refere Gervasio Lobato na  revista Occidente (V. abaixo), serviu também enquanto veículo para que um conjunto de intelectuais e pedagogos portugueses prestassem uma significativa homenagem à educação através da escrita de vários textos em verso e em prosa que formam um precioso álbum comemorativo (BA 52-XIV-8), recebido pela a Rainha Maria Pia nesta ocasião, e que atualmente integra o acervo da Biblioteca da Ajuda.

A referida obra, inclui textos autógrafos de figuras de destaque no pensamento e na pedagogia do século XIX, que contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento da educação e do conhecimento em Portugal como Pedro Venceslau de Brito Aranha (1833-1914), António Maria Afonso Vargas entre outros dos quais destacamos os mais relevantes:

João de Deus de Nogueira Ramos (1830-1896)

Figura central na reforma do ensino primário, destacou-se na educação, sobretudo pela criação da Cartilha Maternal, obra de natureza pedagógica, publicada em 1876, que serviu de base a um método inovador de ensino da leitura às crianças, que revolucionou a alfabetização infantil.




José Duarte Ramalho Ortigão (1836-1915)

Defensor de uma educação moderna e prática, destacou-se na educação em Portugal através da defesa de um ensino mais moderno e acessível. Em 1985 é nomeado Diretor da Biblioteca da Ajuda cargo que ocupa, até1910.

 



Joaquim Pinheiro Chagas (1842-1895)

Escritor, professor, jornalista e político,  dedicou-se ao ensino da literatura e da história, deixando um legado importante na educação humanística.

 


António Feliciano de Castilho (1800-1875)

Escritor e pedagogo, desempenhou um papel significativo na reforma do ensino no século XIX em Portugal.  Foi inventor de um método de ensino infantil da leitura, baseado na utilização de uma cartilha, que ficou conhecido como Método Castilho de leitura [aqui].



Luciano
 Baptista Cordeiro de Sousa (1844-1900)

Historiador e jornalista, lecionou Filosofia e Literatura no Colégio Militar entre 1871 e 1874. Em 1875, integrou a comissão responsável pela reforma do ensino artístico e organização dos museus nacionais. Fundou a Sociedade de Geografia de Lisboa em 1876, promovendo a investigação científica e educativa.

 Em suma, o Álbum de Autographos dedicado à Rainha Maria Pia, mais do que apenas um testemunho de um evento de beneficência, representa também um compromisso coletivo com a educação e com o progresso intelectual da sociedade portuguesa.

No Dia Nacional do Estudante, relembramos a importância da construção do conhecimento, enquanto legado partilhado entre gerações e essencial pilar para a evolução social e cultural.

Que o espírito destes intelectuais continue a inspirar a valorização da educação e do pensamento crítico!


Para saber mais:


Occidente: Revista illustrada de Portugal e do Extrangeiro, 21 de maio 1884, Volume VII, n.º 195 Acessível através da Hemeroteca Digital [aqui









TM@BA